Lula não irá a palanque onde PT e PMDB forem rivais

Partidos se reúnem na 4ª, para tentar acordo sobre Minas
Presidente chamará Ciro para ‘desatar o nó’ de São Paulo
Sérgio Lima/Folha

Lula não participará da campanha eleitoral nos Estados em que houver disputa entre dois candidatos governistas.
Disse que pretende se manter distante de praças como Bahia e Pará, onde PT e PMDB vão medir forças.
Aprova a ideia de contornar a controvérsia por meio da montagem de dois palanques. Mas diz que, nesses casos, só Dilma Rousseff vai escalá-los. Ele não.
Nas pegadas da decisão de Lula, o PMDB reforçará nesta semana a pressão sobre o PT para o fechamento de um acordo em Minas.

Insiste na tese de que, para enfrentar a máquina liderada pelo governador tucano Aécio Neves, o governo precisa se unir.

Cobra o apoio do petismo à candidatura do ministro pemedebê Hélio Costa, mais bem posto nas pesquisas.

Marcou-se para esta quarta (27), em Brasília, um novo encontro dos negociadores das duas legendas.

Prevalecendo o dissenso, a direção do PMDB solicitará uma audiência a Lula. Quer que o presidente intervenha na encrenca mineira, saneando-a.

O PMDB reavivará um compromisso que Lula assumira com o partido no ano passado.

O presidente dissera dissera que, na hora própria, mantendo-se a liderança de Hélio Costa, agiria para retirar o PT do caminho dele.

São dois os candidatos petistas em Minas: o ex-prefeito de BH, Fernando Pimentel; e o ministro do Bolsa Família, Patrus Ananias.

Lula assumira compromisso semelhante em relação ao Rio, onde o petista Lindberg Farias ensaiava canditar-se ao governo.

Nesse caso, Lula já cumpriu o prometido. Enquadrou Lindberg, retirando-o do caminho de Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição. Nada fez, porém, quanto a Minas.

Também nesta quarta, Lula jantará, em Recife, com o governador Eduardo Campos, que preside o PSB. Durante o repasto, deseja mastigar a candidatura presidente de Ciro Gomes (PSB-CE/SP).

Lula quer antecipar a decisão, prevista para março, acerca do papel a ser desempenhado por Ciro no xadrez de 2010.

O presidente chamará o próprio Ciro para um tête-à-tête. Deseja retirá-lo do tabuleiro nacional, empurrando-o para o ringue de São Paulo.

Na reunião ministerial da semana passada, Lula discorreu sobre Ciro como se a candidatura dele ao governo paulista fosse fava contada.

No próprio PSB, vozes que antes apostavam numa nova aventura presidencial de Ciro hoje pensam de outro modo.

Ouvido pelo repórter, uma liderança do partido do deputado disse que o próprio Ciro cava o seu destino ao ausentar-se da disputa.

“O Ciro sumiu”, afirmou. “Perdeu a sua hora. Parece candidato à presidência de Marte, não do Brasil. Ganhou corpo o projeto São Paulo”.

Se Ciro ceder, Lula ordenará ao PT que lhe dê apoio, eximindo-se de lançar candidato em São Paulo. Prometerá, de resto, presença no palanque de Ciro.
Candidatos à reeleição para o Senado, Garibaldi Alves (PMDB) e José Agripino (DEM) firmaram um pacto político.
Um apoiará o outro. E ambos darão suporte à candidatura da senadora Rosalba Ciarlini (DEM) ao governo do Rio Grande do Norte.

Garibaldi rema em direção oposta à de seu primo, o deputado Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara.

Adepto da candidatura presidencial de Dilma Rousseff (PT), Henrique tentava acomodar o PMDB no projeto de Lula para o Rio Grande do Norte.
 

Projetara uma aliança do PMDB com o PSB potiguar. Apoiaria o candidato da governadora Wilma Faria: o vice-governador Iberê Ferreira de Souza.
 

A divisão dos Alves levará o PMDB a uma posição inusitada no Rio Grande do Norte.
 

Formalmente, o partido não vai se coligar com nenhum dos candidatos ao governo do Estado.
Com isso, o PMDB perderá o tempo que teria no rádio e na TV, para fazer a campanha para governador. Coisa de oito preciosos minutos.
 

Na convenção estadual, marcada para junho, o PMDB se limitará a aprovar a candidatura de Garibaldi ao Senado.
 

Nas ruas e na vitrine eletrônica, Garibaldi pedirá votos para a ‘demo’ Rosalba. E Henrique, candidato à reeleição para a Câmara, difundirá o nome do ‘socialista’ Iberê (PSB).
E como fica Dilma Rousseff nessa salada mista? Para evitar constranger ainda mais o primo Henrique junto a Lula, Garibaldi cogita atender-lhe um pedido.
 

O ex-presidente do Senado deve evitar o envolvimento com a campanha presidencial do tucano José Serra no Rio Grande do Norte.
 

Assim, Henrique poderá dizer a Lula que, a despeito do acerto de Garibaldi com o DEM, o PMDB não deixará Dilma a pé no Estado.
 

Funciona como atenuante. Mas não contenta integralmente Lula. Inimigo declarado de Agripino, o presidente prometera, há dois anos, liquidá-lo em 2010.
A promessa fora feita na eleição municipal de 2008. Lula empenhara-se para eleger a petista Fátima Bezerra para a prefeitura de Natal.
 

Do alto do palanque do PT, o presidente desaconselhara o voto em Micarla de Sousa (PV), adversária apoiada pelo DEM de Agripino.
 

Em discurso inflamado, Lula dissera que, dali a um par de anos, evitaria o retorno de Agripino ao Senado. Micarla prevaleceu sobre Fátima.
E a eleição de Natal foi às manchetes como uma das mais constrangedoras derrotas de Lula, só superada pela da petista Marta Suplicy, em São Paulo.
Agora, Lula flerta com novos infortúnios na seara potiguar. Ao lado de Garibaldi, Agripino lidera as pesquisas. É favorito a uma das duas vagas de senador.
 

A governadora Wilma Faria, preferida de Lula para o Senado, amarga um terceiro lugar – entre 20 e 25 pontos percentuais atrás de Garibaldi e Agripino.
 

Rosalba, a candidata ‘demo’ ao governo, também lidera as pesquisas. Para complicar, deve acomodar na sua chapa, como candidato a vice, Robinson Farias (PMN).
 

Robinson é deputado estadual. Preside a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte. Controla no Estado, além do PMN, o PP.
Para complicar um pouco mais, Robinson é, hoje, o segundo colocado nas pesquisas para o governo, à frente de Iberê, o candidato oficial.
 

Ou seja, além do risco de ter de digerir Agripino, o Planalto pode assistir à derrota da coligação que une PSB e PT na briga pela sucessão de Wilma.
Para completar a onda de azar, só falta Dilma amealhar menos votos do que Serra no Rio Grande do Norte.
 

Agripino soa confiante: “Dificilmente o Serra perde no meu Estado”, disse o desafeto de Lula ao repórter.
 

Na soma total de votos do país, o Rio Grande do Norte tem peso ínfimo. Conta com irrisórios 2,3 milhões de eleitores.
 

O jogo que se arma no Estado tem, porém, importância simbólica. Na hipótese de reeleger-se senador, Agripino afrontará Lula.
 

Adicionando ao triunfo a vitória de Rosalba e a derrota de Dilma na sua província, o líder ‘demo’ desfilará por Brasília como um gigante regional.
 

Um personagem que, na troca de navalhadas com Lula, poderá dizer que fez barba, cabelo e bigode.
 

O Planalto fará o que estiver ao seu alcance para evitar tamanho fiasco.
Escrito por Josias de Souza

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