DEU EM O GLOBO

Na reta final

De Merval Pereira
A decomposição da mais recente pesquisa do Datafolha, que mostra a candidata oficial Dilma Rousseff colocando oito pontos de vantagem sobre o candidato da oposição José Serra, mostra uma tendência semelhante ao que aconteceu no primeiro turno da eleição de 2006, com o país dividido por regiões: Serra segue liderando no Sul do país, Dilma vence no Nordeste e no Norte, e o Sudeste está empatado dentro da margem de erro da pesquisa, com ligeira vantagem para Dilma. Em 2006, Alckmin perdeu a eleição mas ganhou no Sudeste, graças aos votos de São Paulo.
O cientista político Cesar Romero Jacob, diretor da editora da PUC, coordena uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses que estuda a “geografia do voto” nas eleições presidenciais do Brasil de 1989 a 2006 e vê um cenário semelhante ao da última eleição presidencial se desenhando, embora acredite que a fatura não esteja decidida a favor da candidata do governo, mesmo que as condições objetivas sejam favoráveis a ela.
Perto de ganhar a eleição no primeiro turno, com 47% dos votos válidos, Dilma Rousseff está em situação pior do que Lula aparecia às vésperas da campanha de rádio e televisão de 2006, quando o presidente, buscando a reeleição, tinha 55% dos votos válidos.
Também o então candidato tucano Geraldo Alckmin, estava em situação pior do que hoje está Serra: havia caído de 28% para 24%, enquanto Serra aparece hoje com 33%, ou 38% de votos válidos.
Marina Silva registra 12% de votos válidos, enquanto os candidatos de partidos pequenos somados vão a 2%, o mesmo quadro de 2006, quando Heloisa Helena, do PSOL, aparecia com 11% dos votos e Cristovam Buarque com apenas 1%.
O resultado do primeiro turno foi bem diferente. Lula teve 48,61% dos votos válidos e Alckmin: 41,64%, enquanto Heloisa Helena e Cristovam somavam menos de 10% dos votos. O que demonstra que política não pode ser confundida com uma ciência exata, nem as pesquisas definem o resultado final das urnas.
A situação regional é explicada por Cesar Romero como resultado de uma cadeia de interesses, e não uma divisão simplista entre “ricos e pobres”.
No Nordeste, por exemplo, não é especificamente o beneficiário do Bolsa Família que influencia o voto, mas uma cadeia de beneficiários. No que aumenta a renda na região, e também a classe média, são também os comerciantes que se beneficiam.
E no Sul, não é só o executivo dos setores exportadores, mas toda a região que é afetada pela valorização do real, que prejudica as exportações.
Se o real estivesse valendo menos em relação ao dólar, toda a região estaria com mais dinheiro, não apenas os grandes exportadores como a Sadia e a Perdigão, mas também o pequeno produtor rural, que faz parte da cadeia exportadora, ressalta Cesar Romero.
Comparando os mapas regionais do resultado da eleição passada no primeiro turno com as pesquisas atuais, o cientista político da PUC destaca que, em 2006, Lula teve um ótimo desempenho na região Norte-Nordeste e em parte do Sudeste.
Em contrapartida, o Sul, São Paulo, parte de Minas e o Centro-Oeste ficaram com o outro lado.


22 mil candidatos aspiram ao voto de 135 milhões
Gerson Camarotti, Flávio Freire, Sérgio Roxo e Elenilce Bottari, O Globo
Com cerca de 22.400 candidatos – um “elenco” jamais visto em qualquer programa de rádio ou televisão -, estreia nesta terça-feira o programa eleitoral gratuito.
O público estimado é de 135.804 milhões de eleitores, que terão 130 horas de programação eleitoral, além de inserções diárias entre 17 de agosto e 30 de setembro, para conhecer as propostas dos nove candidatos à Presidência, dos 270 candidatos ao Senado e dos mais de 20 mil aspirantes a deputado estadual, distrital e federal.
Primeiro a aparecer no horário eleitoral, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, vai apresentar propostas com base no tripé que pretende explorar nos próximos 45 dias de exposição na TV: saúde, educação e segurança serão o carro-chefe do programa dirigido pelo marqueteiro Luiz Gonzalez.
O tucano vai reforçar críticas aos gargalos de infraestrutura que teriam sido provocados pelo governo federal, com destaque para sucateamento dos portos e falta de investimentos na malha aeroviária.
A superlotação dos aeroportos surgirá como alerta para os períodos em que o país vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Para o programa de abertura, haverá comparação da biografia com a de outros candidatos, principalmente com a da petista Dilma Rousseff.
Para isso, a cúpula tucana levantou números, imagens e depoimentos relativos à trajetória de Serra. Servirão de bandeiras o programa de prevenção à Aids e mutirões de saúde, entre outros temas. A origem humilde de Serra será explorada na TV.
(…) O programa de Dilma, por decisão do presidente Lula, terá como principal objetivo reforçar a identidade dela como a mais capacitada para continuar o projeto de governo. Nos bastidores, Lula tem sido consultado pelo marqueteiro João Santana.
O objetivo é explorar ao máximo a parceria com Lula para atrair um quarto do eleitorado que ainda desconhece essa relação.
Haverá comparação entre os governos de Lula e Fernando Henrique Cardoso.
Nos primeiros programas, Dilma vai aparecer no extremo Sul do país, enquanto Lula gravou um programa no Norte, para mostrar a integração nacional proposta pelos dois.
(…) Com apenas um minuto e 23 segundos no horário eleitoral, a campanha de Marina Silva pretende apelar à criatividade para driblar a pequena exposição na televisão em relação aos adversários Dilma e Serra.
A ideia é apresentar uma “produção artística” inovadora no primeiro programa para chamar a atenção. Os detalhes são mantidos em segredo. O cineasta Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus”, tem contribuído com sugestões e chegou a participar da gravação do primeiro piloto do programa.

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