Com aliados, Serra cita FHC e soa mais oposicionista

Fábio Pozzebom/ABr
José Serra reuniu a tropa em Brasília. Em discurso, exibiu o timbre que planeja adotar nas próximas semanas.
Inaugura o segundo turno longe do Serra dos primeiros dias da campanha. Antes, dizia o que queria:
“Continuar” e “aprofundar” o que funciona sob Lula, “corrigir” o que não reclamasse aperfeiçoamento. Agora, diz o que não quer: “Não queremos um Brasil parecido com a casa da mãe Joana”.
O primeiro Serra, aquele do alvorecer da campanha, parecia saído de um encontro com um gênio de conto de fadas. Era como se, numa caminhada pela Avenida Paulista, houvesse tropeçado numa lâmpada mágica.
De dentro da lâmpada, saiu um gênio, que afirmou: Seu desejo será satisfeito, vou lhe dar a Presidência da República.
Para poder organizar a execução do milagre, o gênio disse a Serra que precisava conhecer os planos da campanha. Como pretende conduzir a propaganda? E Serra: Vou esconder o FHC, prometer a continuidade e associar minha imagem à do Lula.
O gênio fez uma careta e, desanimado, bateu em retirada. Antes de se enfiar de volta na lâmpada, disse que Serra não precisava dele: “Tente um marqueteiro e o DEM! Vou me entender com a Marina Silva.”
Pois bem. Empurrado para o segundo turno pela votação exuberante de Marina, Serra discursou aos aliados noutro tom.
Acha que o embate direto facilitará a comparação de biografias. Quer realçar as diferenças que o separam de Dilma. Endureceu as críticas. Realçou os valores morais. Esclareceu o que entende por Brasil da mãe Joana:
Um país “onde os governos fazem o que querem, como querem e na hora que querem. Queremos um governo que respeite as instituições”.
Falava para uma platéia cujo otimismo contrastava com os cenhos preocupados que se acercaram de Dilma três dias antes.
Sem mencionar os escândalos que empinou na fase final do primeiro turno –‘Fiscogate’ e Erenicegate’—, Serra disse que sua biografia é “limpa”: “Ocupo cargos há 27 anos, vocês nunca ouviram falar de alguma sujeirinha de minha vida”.
Súbito, no afã de abordar um tema que desconserta Dilma, Serra tropeçou nas palavras: “Eu nunca disse que sou contra o aborto, porque sou a favor”. Cirrigiu-se: “Ou melhor, nunca disse que era a favor do aborto, porque sou contra o aborto”.
Dedicou um pedaço do discurso à economia, seara de sua predileção. Insinuou que, eleito, será portador de novidades: “Agora nos chamam de conservadores. Em matéria de economia, não conheço nada mais conservador e mais neoliberal que a atual política econômica”.
Embora convidado, FHC não deu as caras na pajelança desta quarta (6). Serra cuidou de injetá-lo em sua fala: “O Plano Real é do Itamar e do Fernando Henrique, que eliminou uma nuvem quente que sufocava a gente, principalmente os mais pobres”.
Acrescentou: “Vamos fazer da economia brasileira uma economia forte, para que o atual crescimento não se transforme em um voo de galinha”.
Antecipando-se ao discurso de Dilma, que decidiu reintroduzir na cena eleitoral as privatizações da era tucana, Serra declarou:
“Agora vão voltar com a história de privatizações, etc… O governo Lula continuou privatizando dois bancos [não mencionou as logomarcas]. Aí, não é um problema de número, é um problema de ideologia. Se privatizou, não era tão contra”.
De resto, disse que não terá dificuldades para obter apoio congressual caso o eleitor o converta em presidente: “Tenho certeza que vamos ter maioria política e parlamentar para governar o Brasil. Não há a menor possibilidade que isso não aconteça. Teremos um governo forte, não autoritário”.
Animados com o novo timbre de Serra, aliados que escondiam o candidato em suas campanhas regionais agora se dispõem a suar a camisa por ele. Estrela do evento, Aécio Neves, grão-duque do tucanato mineiro, disse coisas assim:
“Os que querem condenar as privatizações estão, de alguma forma, dizendo a cada cidadão brasileiro que pegue o celular que está em seu bolso ou na sua bolsa e o jogue na lata de lixo mais próxima”.
Geraldo Alckmin, devolvido pelo eleitor paulista ao Palácio dos Bandeirantes, realçou o contraste entre a animação do grupo de Serra e o abatimento dos arredores de Dilma. Disse que, no segundo turno, o jogo ganha outro contorno:
“Você terá uma comparação maior dos dois candidatos”, disse Alckmin. De fato, a comparação agorea é direta e incontornável. Porém, isso não quer dizer muita coisa.
Alckmin não disse, mas, na sucessão de 2006, ele próprio foi ao segundo turno contra Lula. Contabilizadas as urnas, somou menos votos do que amealhara no primeiro round.
Fonte: Blog do Josias

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