Aécio disputa comando da oposição com PSDB de SP

Fábio Pozzebom/ABr
Aécio Neves acha que chegou a sua vez de ocupar o primeiro lugar na fila do PSDB. Arma-se para disputar o comando da oposição ao governo Dilma Rousseff.
Senador eleito pelo PSDB de Minas, imaginava que teria de lidar com resistências de Geraldo Alckmin, “novo” governador de São Paulo.
Na noite passada, ficou claro que o desafio será maior. Aécio terá de prevalecer também sobre José Serra.
No discurso em que reconheceu a derrota, Serra insinuou interesse por 2014: “Minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo”.
Um tucano mineiro, integrante do grupo de Aécio, leu o discurso de Serra nas entrelinhas.
Notou que, no capítulo dos agradecimentos, Serra citou apenas Geraldo Alckmin. “Ele se empenhou na minha eleição, mais do que se empenhou na dele”, disse.
Nem sinal de Aécio, a quem o tucanato paulista acusa de ter feito “corpo mole” no primeiro turno da eleição presidencial.
Mais cedo, o atual governador tucano de São Paulo, Alberto Goldman, concedera uma entrevista na web à Folha e ao UOL.
O signatário do blog participou da conversa. Perguntou a Goldman, se concordava com o raciocínio segundo o qual o eixo do partido muda de São Paulo para Minas.
Goldman não se limitou a discordar. Classificou a tese de “bobagem”. Disse que o PSDB “errou” ao não fazer uma oposição explícita a Lula.
Goldman esclareceu que não se referia à campanha do amigo Serra, mas a todo o período do governo Lula.
O discurso vai em sentido inverso à estratégia que Aécio planeja por em pé. Para ele, o PSDB precisa ampliar o seu leque de alianças.
Acha que a derrota de Alckmin na disputa presidencial de 2006 e a de Serra agora deixaram claro que a parceria com o DEM já não basta.
Trabalha com a hipótese de achegar-se a partidos que, hoje, gravitam na órbita de Lula e do PT. Legendas como o PSB e o PDT.
Aposta no desgaste da gestão Dilma a médio prazo. E supõe que, confortáveis sob Lula, esses partidos tendem a tomar distância da sucessora dele.
Na concepção de Aécio, a oposição desperdiçará o seu tempo se apostar na raiva. Acha que o contraponto precisa ser “propositivo”.
Antes mesmo de assumir a cadeira de senador, em fevereiro de 2011, Aécio iniciará um ciclo de contatos suprapartidários.
Valendo-se da reconhecida vocação para o diálogo, deseja estabelecer uma “agenda” de reformas. Começa pela política, passa pela tributária e chega à previdenciária.
Na cabeça de Aécio, a tal agenda brotaria do Legislativo e submeteria o Executivo. Algo que exige a construção de pontes.
A lista de interlocutores de Aécio inclui gente como o governador pernambucano Eduardo Campos (PSB), o ministro Carlos Lupi (PDT) e até Renan Calheiros (PMDB).
Alega que o uso de dinamite igualaria o PSDB de hoje ao PT de ontem, que torcia o nariz para tudo, inclusive para iniciativas benéficas ao país.
De resto, Aécio defende a reconciliação do PSDB com o seu passado. Acha que passou da hora de o partido assumir o legado de FHC como algo benfazejo.
O PSDB de Minas e o de São Paulo se movem contra um pano de fundo em que reluzem quatro algarismos: 2014.
Para Aécio, a fila do partido andou. Acha que chegou a vez de Minas. Tomado pelo discurso deste domingo, Serra não parece tão convencido.
Derrotado na disputa presidencial, o tucanato emerge das urnas de 2010 com um cacife nada negligenciável. Ampliou de seis para oito os Estados sob seu controle.
As jóias da coroa são justamente São Paulo, cujo governo retorna às mãos de Alckmin; e Minas, onde Aécio reelegeu o seu “poste”, Antonio Anastasia.
Somando-se aos demais Estados em que prevaleceu (Paraná, Goiás, Alagoas, Pará, Tocantins e Roraima), o PSDB governará para 47,5% do eleitorado nacional.
Convertidas em cifrões, as oito administrações tucanas representarão algo como 49% da receitas amelhadas pelos Estados em tributos. Algo como R$ 230 bilhões anuais.
Por ora, o PSDB usa o seu notável poder de fogo, contra si mesmo. Entra eleição, sai eleição, o tucanato continua sendo um conjunto de amigos 100% feito de inimigos.

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