Líder do PMDB relata crise das verbas em tempo real

Alan Marques/Folha

Deputado Federal do RN, Henrique Alves

O desacerto de Dilma Rousseff com seus aliados em torno das emendas orçamentárias ganhou a forma de um relato em tempo real.

Plugado ao twitter, Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB, discorreu sobre reunião em que os projetos de interesse do Planalto misturaram-se às verbas.

Anotou: “Hoje recebo os líderes da base aliada para reunião-almoço. Vamos conversar com a ministra Ideli”.

Coordenadora política do Planalto, Ideli Salvatti reunira-se antes com a bancada de deputados do PT. Fora portadora de uma má notícia.

Informara que Dilma decidiu não prorrrogar o decreto que cancela nesta quinta (30) emendas parlamentares apresentadas entre 2008 e 2010.

Ainda à espera de Ideli, Henrique atualizou os seus seguidores nomicroblog: “Já chegaram o ministro Orlando [Silva, dos Esportes]…”

“…E os líderes Ana Arraes [PSB], Nelson Meurer [PP], Giovanni Queiroz [PDT], Jovair Arantes [PTB], Ratinho Filho [PSC] e Lincoln Portela [PR].”

A presença de Orlando Silva no repasto foi sintomática. O ministro compareceu para prover aos líderes dados sobre o regime especial de licitações das obras da Copa.

O Planalto espera que seus aliados concluam a votação da proposta ainda nesta terça (28). E os líderes contam com a boa vontade de Dilma em relação às verbas.

Henrique Alves voltou ao twitter: “Acabou de chegar o líder do governo, [Cândido] Vacarezza [PT-SP]…”

“…Explico a ele a importância da prorrogação do prazo [do decreto presidencial] para a liberação dos restos a pagar [referents às emendas antigas]!”

Vaccarezza participara da reunião anterior, de Ideli com os petistas. Sabia da disposição de Dilma, contrária à renovação das emendas.

A presidente invoca razões de natureza fiscal. Precisa entregar no final do ano os cortes orçamentários de R$ 50 bilhões que prometeu.

Ideli dissera aos deputados de seu partido que o ministro Guido Mantega (Fazenda), gestor do cofre, é contra a liberação das verbas aos congressistas.

Súbito, irrompe na sala a ministra que coordena –ou tenta coordenar— o balcão: “Acaba de chegar a ministra Ideli Salvatti. Vacarezza relata nossas preocupações.”

Henrique ecoa Vaccarezza: “Relato à ministra que os restos a pagar são uma questão vital para que as prefeituras possam honrar as obras já assumidas com a população!”

De volta do recesso branco de São João, os deputados trouxeram de suas bases os queixumes dos prefeitos que os apoiam nos Estados.

Confirmando-se a decisão de Dilma, os aliados do governo perderão a moeda que financia, por assim dizer, os votos que recolhem nos municípios.

A despeito do pessimismo que envenena o consórcio governista, Henrique Alves parece manter um laivo de esperança:

“A ministra Ideli se retira para conversar com a presidente [Dilma]. Propus um gesto de confiança à ministra – hoje votaremos o RDC!”

RDC é a sigla de Regime Diferenciado de Contratações, o modelo que flexibiliza as licitações das obras da Copa e das Olimpíadas.

Ao misturar as verbas do orçamento ao projeto, Henrique Alves como que repisa: os deputados exibirão lealdade no plenário. E quanto à reciprocidade do governo?

O líder do PMDB levou à mesa um contra-argumento à tese da Fazenda de que a liberação das emendas compromete a austeridade.

Anotou: “Um argumento muito forte pela prorrogação do pagamento dos restos a pagar de 2009 está nas informações da Receita Federal!”

Acrescentou: “A arrecadação de maio cresceu mais de 7% em relação a maio de 2009. Nos primeiros cinco meses de 2011 a União teve ganhos na arrecadação!”

Comparou: “O desempenho da arrecadação no período ultrapassou os R$ 30 bilhões! As emendas na mira do corte chegam a cerca de R$ 4 bilhões!”

Não há, por ora, notícia sobre o resultado da conversa de Ideli com Dilma. Tomada pelo que diz em privado, a presidente não parece disposta a ceder.

Henrique Alves serviu aos seus comensais picadinho e camarão. Em relação às emendas, Dilma parece mais próxima do primeiro prato.

Resta agora saber qual será o reflexo da inflexibilidade no painel de votações da Câmara.

Fonte:Blog do Josias

 

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