CONTRA O ZIKA, BRASIL TERÁ AJUDA DE EQUIPE QUE COMBATEU EBOLA

INSUFICIÊNCIA
CIENTISTAS VÃO AJUDAR BRASILEIROS A ISOLAR E PESQUISAR O VÍRUS

CIENTISTAS DO INSTITUTO PASTEUR NO SENEGAL VÃO AJUDAR PESQUISADORES BRASILEIROS A ISOLAR E PESQUISAR O VÍRUS, APONTADO COMO RESPONSÁVEL PELA EPIDEMIA DE MICROCEFALIA NO PAÍS (FOTO: RAFAEL NEDDERMEYER)

Os primeiros quatro integrantes de uma equipe de cinco pesquisadores do Instituto Pasteur de Dakar, no Senegal, que participaram ativamente do combate à epidemia de ebola na África, desembarcaram ontem em São Paulo para ajudar cientistas brasileiros a lidar com o zika vírus. O chefe da equipe, Amadou Alpha Sall, um renomado especialista em pesquisa e controle de epidemias virais, deve chegar amanhã.

Eles vão se juntar à rede de pesquisadores paulistas que foi formada em caráter emergencial para responder à epidemia de zika, que vem se alastrando pelo país e é apontada como responsável pelo aumento explosivo no número de casos de microcefalia em bebês. A rede é coordenada pelo pesquisador Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, que já colabora com o instituto de Dakar há vários anos e recentemente publicou um artigo científico com Sall, mostrando adaptações genéticas do vírus zika para infectar humanos.

A previsão é que a equipe do Senegal passe pelo menos uma semana no ICB, trocando informações e treinando pesquisadores brasileiros em técnicas de isolamento e cultivo do vírus. “Os dias que o vírus zika era invisível estão contados”, disse Zanotto.

A grande dificuldade em responder à epidemia de zika é que muito pouco se sabe sobre o vírus, que praticamente não existia no país até o ano passado. Para montar uma estratégia eficiente de combate, os cientistas precisam entender melhor como ele funciona, seu ciclo na natureza, como ele interage com o mosquito Aedes aegypti e como ele se comporta dentro do organismo humano. A maioria das pessoas infectadas não apresenta sintomas, e não se sabe ainda como o vírus interfere no desenvolvimento do sistema nervoso dos fetos, levando à microcefalia. Sem esse conhecimento básico, não há como planejar qualquer tipo de intervenção — além da precaução básica de se evitar contato com o mosquito.

Uma das prioridades é acelerar o desenvolvimento de testes rápidos de diagnóstico, que permitam detectar e rastrear a disseminação do vírus com mais eficiência. Os sintomas do zika (quando aparecem) são muito semelhantes aos da dengue e da febre chikungunya, o que dificulta o diagnóstico e o monitoramento da doença.

O Instituto Pasteur de Dakar é um centro de referência em pesquisas de arboviroses, como são chamadas as doenças virais transmitidas por picadas de insetos (como dengue, zika e chikingunya, transmitidas pelo Aedes aegypti), e vírus causadores de febre hemorrágica (como o ebola). O laboratório trabalha em parceria com a Organização Mundial da Saúde e foi o primeiro a responder à epidemia de ebola que começou na Guinea em 2014. Sall foi homenageado pela Unesco no ano passado por seu trabalho.

O diretor do ICB, Luís Carlos de Souza Ferreira, lidera um esforço para instalar uma unidade do Instituto Pasteur na USP. “Nesse sentido, a vinda de pesquisadores do Senegal a São Paulo representa uma etapa importante na parceria científica entre o Instituto Pasteur e o Brasil, na qual participam a USP e a Fiocruz”, disse Ferreira ao Estado.

A vinda da equipe de Senegal para o Brasil, segundo o ICB, integra um acordo de cooperação assinado entre a USP, a Rede Internacional do Instituto Pasteur (RIIP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp). Uma coletiva de imprensa com Zanotto e Sall será realizada sexta-feira no ICB. (AE)

Fonte:Diário do Poder

 

 

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