Flamengo rico, enfim, colhe frutos de reestruturação financeira

Deu no Blog do BG

Campeão do Brasileiro e da Copa Libertadores, o Flamengo finalmente colheu os primeiros frutos polpudos da reestruturação financeira pela qual passou nesta década. Após um período de contenção de gastos, o clube ganhou um poder de investimentos bem superior ao da maioria dos concorrentes, mas não vinha transformando essa capacidade em conquistas expressivas.

Com o elogiado elenco montado para a temporada 2019 e o também aclamado trabalho do treinador português Jorge Jesus, vieram as primeiras grandes taças. A principal delas foi erguida pelo presidente Rodolfo Landim, no Peru, mas a mudança começou com seu antecessor, Eduardo Bandeira de Mello.

Símbolo do Flamengo de saúde financeira e de decepções na busca pelos principais objetivos esportivos, Bandeira de Mello assumiu o clube em 2013 e encontrou situação complicada. Acumulou frustrações em campo e foi criticado pela condução do departamento de futebol, mas, ao fim de seu segundo mandato, no final de 2018, entregou a agremiação a Landim em outro estado.

No início do primeiro mandato, o último presidente rubro-negro teve de lidar com uma dívida de R$ 741 milhões (R$ 1 bilhão, em valores atuais, corrigidos pelo IPCA). Embora a equipe tenha vencido a Copa do Brasil naquele ano, ficou claro que a prioridade era equacionar as dívidas e começar a pagá-las, o que limitou bastante os investimentos no futebol.

O faturamento começou a escalar ainda em 2013, porém foi só em 2015 que uma parcela maior do dinheiro passou a ser destinada ao carro-chefe do clube –foi nessa temporada que chegou o centroavante peruano Paolo Guerrero. O primeiro momento foi de contenção de gastos, o que acabou sendo produtivo no longo prazo.

“Outros clubes tiveram crescimento de receitas, com venda de atletas, mas optaram por gastar na atividade [futebol]. Essa é a grande diferença do Flamengo. Enquanto o clube se organizou pensando no futuro, outros pensaram no presente”, disse o economista Cesar Grafietti, consultor do Itaú BBA, que analisou as finanças dos 20 times da Série A do Brasileiro.

No fim do exercício de 2018, a dívida do Flamengo já havia caído para R$ 469 milhões. Embora o valor possa ser considerado alto, é bem menor, por exemplo, do que o apresentado pelo rival Botafogo (R$ 730 milhões). Em 2018, para cada R$ 1 de receita gerada, houve endividamento de R$ 0,87. O superavit foi de R$ 45,8 milhões, o que mostra a situação sob controle.

Outro fator importante é a composição da dívida. Dos R$ 469 milhões, são R$ 305 milhões em dívidas tributárias, e elas estão equacionadas por meio do Profut (Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro), implementado pelo governo federal em 2015. Com a dívida com a União parcelada em 20 anos, o clube pôde sanar dívidas bancárias e trabalhistas.

“O endividamento de hoje não é nocivo ao caixa, como empréstimos a curto prazo”, afirmou Pedro Daniel, diretor executivo da empresa de auditoria EY.

Foi essa saúde que permitiu ao Flamengo fazer GRANDES investimentos para o elenco nesta temporada. Nas chegadas de Rodrigo Caio, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol, de acordo com balancete do primeiro semestre, foram gastos R$ 135,8 milhões. Depois, ainda chegariam os laterais Rafinha e Filipe Luís e o meio-campista Gerson.

A folha salarial, incluindo os gastos com a comissão técnica de Jorge Jesus, é de R$ 8 milhões, valor que não inclui os direitos de imagem. E todo o investimento desta vez teve retorno esportivo, o que não vinha ocorrendo nos anos anteriores.

Na última década, a única conquista que havia superado o nível estadual tinha sido a Copa do Brasil de 2013. Na Copa Libertadores, multiplicaram-se os fracassos precoces. No Brasileiro, o máximo foi o vice-campeonato de 2018, oito pontos atrás do campeão Palmeiras.

Eduardo Bandeira de Mello só pôde colher como torcedor os frutos que plantou como presidente, algo que ele fez sorridentemente no triunfo sobre o River Plate (ARG), em Lima. Pagou do próprio bolso a viagem e o ingresso, já que o atual presidente, que já foi de seu grupo político, tornou-se seu desafeto.

FOLHAPRESS

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