Serra dez pontos à frente de Dilma, indica Datafolha
Moacyr Lopes Jr./Folha
Saiu do forno mais uma pesquisa Datafolha. Atribui a José Serra 38% das intenções de voto. Acomoda-o dez pontos à frente de Dilma Rousseff, com 28%.
Considerando-se a margem de erro –dois pontos para mais ou para menos— pode-se afirmar que, do ponto de vista estatístico, o quadro é estacionário.
Na sondagem anterior, divulgada em 27 de março, Serra obtivera 36%. Dilma, 27%. Estavam separados, então, por nove pontos percentuais.
Chama-se Ciro Gomes a principal novidade da pesquisa. Pela primeira vez, o deputado aparece em patamar inferior ao de Marina Silva.
Marina, que cravara 8% no fim de março, aparece agora com 10%. Ciro, que amealhara 11% no mês passado, escorregou para 9%.
São, de novo, variações dentro da margem de erro. Tomados pela lente fria da estatística, os dois estão tecnicamente empatados. Porém…
Porém, Ciro vem perdendo gordura desde o final do ano passado. Em dezembro, somava 13%. Desde então, vem descendo a escadaria.
Um degrau em fevereiro: 12%. Mais um em março: 11%. Dois agora: 9%. Não cometerá exagero quem disser que Ciro arrosta uma tendência de queda.
O fenômeno conspira contra a permanência de Ciro no tabuleiro. Seu partido, o PSB, já cogitava lançá-lo ao mar. O Datafolha pode servir de âncora.
O maior beneficiário da eventual exclusão de Ciro é Serra. O tucano sobe quatro pontos –de 38% para 42%.
Não é, porém, o único favorecido. Dilma herda de Ciro dois pontos. Vai de 28% para 30%. Marina também belisca dois pontos, oscilando de 10% para 12%.
No mais, O Datafolha reforça o já sabido: na largada da sucessão, Serra e Dilma vão à disputa com a cara da polarização.
O crescimento da candidata de Lula revela-se sólido. Tinha 23% em dezembro. Em fevereiro, beneficiada pela superexposição dos pa©mícios, deu um salto: 28%.
Desde então, Dilma se mantém nesse patamar: 27% em março e 28% agora. Quanto a Serra, os atuais 38% lhe devolvem a musculatura que tinha em dezembro: 37%.
Em fevereiro, mês em que Dilma saltara cinco pontos para o alto, Serra perdera cinco.
Chegou-se a especular, na época, que as chuvas que inundavam o noticiário poderiam levar ao naufrágio a pretensão política do então governador de São Paulo.
Deu-se, porém, coisa diferente: Serra voltaria ao jogo em março (36%). E os 38% atuais acomodam sob suas olheiras o semblante de um contendor competitivo.
O Datafolha fez também uma simulação de segundo turno. No confronto direto com Dilma, Serra prevalece, hoje, por 50% a 40%.
O instituto aferiu também a popularidade de Lula. Oscilou para baixo. Em março, 76% dos pesquisados aprovavam sua gestão. Agora, o índice de aprovação é de 73%.
A despeito da queda residual de três pontos, Lula conserva o título de presidente mais popular da fase pós-redemocratização.
A melhor marca do antecessor FHC, foi obtida em dezembro de 1996: 47% de aprovação. Ou 26 pontos percentuais atrás de um Lula em fim de mandato.
A superpopularidade faz de Lula um protagonista de sua própria sucessão. E reforça a impressão de que Dilma padece de “lulodependência” (leia o texto abaixo).
Escrito por Josias de Souza
Pesquisa faz de Lula ‘pivô’ da eleição do continuísmo
Paixão
Ao ratificar a vantagem do tucano José Serra sobre a petista Dilma Rousseff, agora de dez pontos percentuais, o Datafolha reforça uma evidência incontornável.
O protagonista da sucessão de Lula é, por ora, o próprio Lula. Mesmo privado pela Constituição de frequentar a cédula de 2010, o presidente é o pivô da eleição.
No topo da pesquisa, com 38%, Serra tornou-se um candidato sui generis. Representa a oposição. Mas não se opõe a Lula.
Na segunda colocação, com 28%, Dilma tenta provar-se capaz de caminhar com as próprias pernas. Mas não logrou livrar-se de seu vício. É “lulodependente”.
A sucessão é guiada pelo signo da continuidade. Dilma leva à vitrine o que foi feito. Serra aferra-se à cantilena de que pode fazer mais.
Para compreender o que está por vir, o observador deve prestar atenção a um dado periférico da pesquisa.
O Datafolha informa, desde dezembro, que há na praça algo como 14% de eleitores que reúnem três características básicas.
Declaram que, com certeza, votariam no candidato apoiado por Lula. Não são, ainda, eleitores de Dilma. Nem sabem que ela é candidata.
O grosso desse eleitorado está assentado no Nordeste. É gente pobre, com pouco ou nenhum acesso à informação.
Pois bem, suponha-se que esses eleitores, ao tomar conhecimento da existência de Dilma, optem por votar nela. A candidata de Lula vai a 42%.
Foi precisamente com esse percentual de votos (42%) que Lula prevaleceu sobre Serra no segundo turno de 2002.
Em 2006, Lula bateu o tucano Geraldo Alckmin, também no segundo round, com 44,5%.
Não é por outra razão que Serra joga suas fichas no estreitamento de relações com Aécio Neves, o grão-duque do tucanato de Minas Gerais.
Serra pretende retirar das urnas de São Paulo e de Minas, os dois maiores colégios eleitorais do país, os votos que lhe faltarão no Nordeste.
Convém observar, de resto, o destino de Ciro Gomes, pseudocandidato do PSB. O Datafolha informa que Ciro (9%) virou uma espécie de sub-Marina Silva (10%).
Não são negligenciáveis as chances de que Ciro seja empurrado para fora do tabuleiro. Para onde vão os seus votos?
O Datafolha informa que, sem Ciro, Serra sobe quatro pontos. Vai a 42%. Dilma sobe dois (30%). Marina também escala dois (12%). Juntas, teriam 42%.
Ou seja, se a eleição fosse hoje, Serra teria, sozinho, o mesmo tamanho de Dilma e Marina somadas. Daí o protagonismo de Lula.
Para seduzir os 14% que se dispõem a votar no nome indicado pelo presidente superpopular, o “oposicionista” Serra terá de operar uma mágica: vender a ideia de que é mais continuísta que a própria Dilma.
– Em tempo: O texto acima, de autoria do signatário do blog, foi veiculado na edição deste sábado da Folha.