Wellington Medeiros*
Um passo a mais
Os números conhecidos são mesmo estarrecedores. Cerca de 90% dos adolescentes envolvidos em atos infracionais têm ligação com as drogas; 61% das mulheres do sistema prisional estão lá por algum crime ligado aos entorpecentes e 85% dos homens cumprem pena por envolvimento com o tráfico. Como se não bastasse, de cada dez homicídios registrados, pelo menos oito estão relacionados às drogas. Embora não se possa afirmar que as autoridades estão alheias a essa realidade, há de se reconhecer que algo tem que ser feito para ampliar o leque de ações visando deter essa escalada da criminalidade. De forma mais consistente e integrada.
Com o entendimento de que não bastam os presídios superlotados, tem que se prestar atenção no morticínio de jovens que igualmente lota os cemitérios e os boletins de ocorrências que entopem as delegacias, dos que ainda prestam queixas de roubos, assaltos, arrombamentos e práticas violentas resultantes da droga, as polícias Militar e Federal, dão nesta terça-feira mais um passo na intenção de prevenir e combater esse avanço a cada dia mais ousado e intranqüilizador. É a assinatura, às 10h, no auditório da Polícia Federal, de um protocolo de intenções para a ampliação do Programa Educacional de Resistência às Drogas – o Proerd – na região metropolitana de Natal.
O programa, iniciado no Brasil pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em 1992 e desde 2002 em todos os estados brasileiros, incluindo o Rio Grande do Norte, onde atua em 21 municípios, com atendimento a cerca de 100 mil jovens, deverá ter as suas ações fortalecidas. O Proerd, através de instrutores habilitados, ensina aos alunos de forma cativante, descontraída e por meio de diversas formas pedagógicas, técnicas voltaram para a resistência às pressões do cotidiano. O jovem, na maioria de 10 a 16 anos, adquire a consciência da necessidade de dizer “não” às drogas e à violência. Basta acessar o site www.proerd.rn.gov.br para se ter idéia do papel desempenhado por esse programa.
A parceria com a Polícia Federal, cuja eficiência nessa área é mostrada com regularidade no aeroporto Augusto Severo, o mesmo ocorrendo com a Polícia Rodoviária Federal nas BRs que cortam o Estado, prevê a aquisição de veículos, confecção de material didático e camisetas, busca de conhecimentos, informações e experiências em outras unidades da federação, capacitação dos atores – líderes comunitários, técnicos, gestores e policiais – e envolvimento das famílias para o enfrentamento das questões relacionadas à prevenção, como bem adverte o jornalista Walter Gomes, neste JH, – “Cuide do seu filho antes que um traficante de drogas o adote”.
Sabe-se que é uma ação com vistas a tentar melhorar a imagem de Natal, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, mas que desde agora pode representar benefícios não só para o natalense, diante da escalada da criminalidade envolvendo jovens, para o turismo que já não consegue vender Natal como uma cidade tranqüila – o acesso a Internet já não permite esse tipo de imagem – e para o futuro dessa geração assustada, por não poder sequer ir à escola com um celular. E, na escola, não sabe se as aulas se desenvolverão normalmente, diante da insegurança que além dos lares e das ruas, ronda esses estabelecimentos, hoje um dos alvos da ação de traficantes.
Já estava em tempo – e uma prova é esse passo que será dado nesta terça-feira – de não mais se tratar o problema do tráfico de droga de forma isolada. Com essa articulação a bandidagem vai começar a perceber um significativo reforço que visa desmanchar essa teia em um dos seus nascedouros – o do consumo. O tráfico só cresce na medida em que cresce o número de consumidores. É assombrador o crescente número de jovens vítimas da chamada “lei do tráfico”. Do acerto de contas, porque se comprar droga e não pagar morre. Daí, a bola de neve da criminalidade que tem no Proerd uma das barreiras ao contribuir para detê-la ao conscientizá-los de que o problema drogas merece atenção e para manter-se a salvo é preciso dizer não.
(*) Wellington Medeiros é Jornalista.
. Artigo publicado também no Jornal de Hoje, edição de 03.05.2010