Placar do debate? 0X0. Resultado serve mais a Dilma
Folha
Ficou no zero a zero o primeiro debate presidencial da sucessão de 2010, promovido pela TV Bandeirantes.
Ninguém saiu de campo contundido. E nenhum candidato fez um golaço capaz de levar a arquibancada a trocar de time.
Melhor para Dilma Rousseff. Ruim para José Serra. Por quê? A oposição alardeara durante meses que, nos debates, Serra faria picadinho da rival.
Ao deixar a arena inteira, a candidata de Lula cumpriu a tabela. Quanto a Serra, foi como se tivesse cedido o empate num campo que era considerado seu.
De resto, em termos de audiência, o debate perdeu de goleada para o outro evento da noite: a partida entre São Paulo e Internacional.
Na abertura do primeiro bloco, uma pergunta da produção do programa. Dilma exalava nervosismo. Olhou para a câmera errada. Soou confusa. Perdeu-se no cronômetro. Compare abaixo.  

Do segundo bloco em diante, a pupila de Lula acertou o passo. Modulou os seus nervos com os de Serra, calmo do início ao final.
Cada um jogou o seu jogo. Nada de caneladas. Nem sinal de Farc, MST, dossiês e coisas do gênero. Um prenúncio do que deve ocorrer na propaganda eleitoral.
Dilma agarrou-se em Lula. Ao evocar a atual gestão, falou sempre num plural autoinclusivo: “O nosso governo” fez isso, “nós fizemos” aquilo.
Serra dissociou-se de FHC. Declarou mira o futuro, não o retrovisor. No quarto bloco, aberto a perguntas de jornalistas, teve de olhar para trás.
Foi o ponto em que o debate mais se aproximou do modelo plebiscitário idealizado por Lula.
Um dos “inquisidores” da emissora perguntou a Serra por que foge de FHC, como fizera Geraldo Alckmin, em 2006. Questinou-o sobre as privatizações.
Podendo defender o amigo FHC, Serra acendeu o farol dianteiro: “Vou valorizar o patrimônio público”.
Disse que dará cabo das nomeações políticas. Citou o caso dos Correios. Era “empresa modelo”. Virou feudo partidário, palco de “coisas não recomendáveis”.
Sabia que Dilma comentaria sua resposta. E fustigou: Se o governo Lula era contra as privatizações de FHC, poderia ter reestatizado.
E Dilma: “Nós respeitamos contratos”. Fisiologismo? Havia também sob FHC, ela insinuou. Ao chegar, em 2003, encontrou uma Petrobras loteada,
Deu a entender que a prática grassou também sob Serra, em São Paulo. No mais, disse que, a despeito da coleta das privatizações, dívida pública dobrou sob FHC.
Ao treplicar, Serra cuidou de si. Não loteou cargos, disse. Nem na prefeitura nem no governo. Sobre economia, terceirizou a defesa de FHC.
Recomendou a Dilma uma conversa com Antonio Palocci. O ex-ministro da Fazenda de Lula os assistia da platéia.
“Passou anos elogiando a política econômica do Fernando Henrique. Hoje, é assessor da Dilma”, Serra provocou.
Entre os coadjuvantes, Plínio de Arruda Sampaio roubou a cena de Marina Silva. Radical, talvez não tenha angariado votos. Mas divertiu a platéia.
Marina salpicou em suas intervenções dados autobiográficos. A infância pobre, a alfabetização tardia, a fome… Enfim: Lula de saias. E com diploma.
Afora as estocadas de Plínio, tudo dentro do script. Um debate à brasileira, travado no cercadinho de regras impostas pela marquetagem das campanhas.
O petismo chegou ao extremo de proibir a contraposição de imagens. Nada de mostrar a cara de Dilma no instante em que Serra estiver falando. E vice-versa.
Em meio a um mar de pseudodiferenças que igualaram os candidatos, coube ao socialista Plínio pronunciar a frase-síntese da noite:
“Aqui é tudo Poliana. O bem deve ser feito. E o mal deve ser evitado. Isso não quer dizer nada”. Diferente mesmo, só ele. Opção que o eleitor vem se abstendo de adotar.
Fonte:Blog do Josias

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