‘Candidatura depende do 2º turno’

Anna Ruth Dantas – Repórter
O deputado federal Rogério Marinho não conseguiu a reeleição, mas sai das urnas de 2010 já como um provável candidato a prefeito de Natal. O projeto, freado em 2008 por determinação do grupo da ex-governadora Wilma de Faria, ao qual pertencia, agora parece mais próximo do presidente estadual do PSDB, principalmente caso José Serra seja eleito presidente da República. Na candidatura nacional tucana, Marinho deixa de ser o coordenador estadual para se tornar o coordenador da região Nordeste, ao lado do senador paraibano Cícero Lucena. O deputado federal admite que o projeto político a partir de agora passa pelo resultado da eleição para presidente da República. “Passado o processo (do segundo turno) você vai ter dois cenários distintos. Um primeiro cenário que para nós seria muito mais favorável, seria a eleição de José Serra. E o segundo a eleição da nossa adversária. Diante da nova situação vamos nos posicionar em relação ao futuro do nosso partido”, frisa o parlamentar, que teve mais de 36 mil votos para deputado federal no colégio eleitoral de Natal. Rogério Marinho é comedido ao analisar a situação da sua ex-líder política Wilma de Faria (PSB), que perdeu a disputa para o Senado Federal, e da prefeita de Natal Micarla de Sousa (PV), que naufragou no projeto de eleger o marido (Miguel Weber) para deputado estadual, e a irmã (Rosy de Sousa) para deputada federal. Sobre Wilma, ele alerta: “Ela não pode ser considerada carta fora do baralho”. Já a prefeita de Natal, o deputado federal do PSDB acredita que “ainda é tempo de recuperar a administração”. Sobre o pleito 2010, a estratégia da candidatura de José Serra, no Nordeste, e o futuro eleitoral, Rogério Marinho concedeu a seguinte entrevista à TRIBUNA DO NORTE.
Rogério Marinho em entrevista com a TRIBUNA DO NORTE
Qual a leitura que o senhor faz das urnas do Rio Grande do Norte no pleito 2010?

O Rio Grande do Norte tem uma forma de se comportar ainda muito tradicional tanto é que houve renovação de quase a unanimidade da bancada com a minha exceção, no caso do pleito federal. Os candidatos eles são ligados a estruturas convencionais e raramente alguém consegue furar esse cerco, que foi o caso do futuro deputado Paulo Wagner, dentro da conjuntura e das circunstâncias que ocorreram. Saindo das eleições proporcionais, a eleição dos dois senadores, José Agripino e Garibaldi Filho se deram por algumas circunstâncias que pareceram muito claras durante a campanha. A primeira foi a união dos dois senadores José Agripino Maia e Garibaldi Filho. A sintonia e sinergia entre os dois funcionou, o segundo voto foi passado de um para o outro e isolou a candidatura da ex-governadora Wilma de Faria. Aliado ao fato de que a população julgou os últimos oito anos da administração atual, principalmente o segundo governo. O governo perdeu a capacidade de protagonismo político, perdeu uma série de aliados, perdeu a sua capacidade de investimento com recursos próprios, fez com que o Estado estivesse loteado em comportamentos estanques, foram feudos dentro de secretarias. Esse período que antecedeu a eleição sem definição do governo sobre quem seria o candidato, essa autofagia interna, prejudicou a candidatura do atual governador Iberê Ferreira. E há uma fadiga de material natural, aliado ao fato de que nós temos hoje um apagão na educação pública. Somos um dos últimos Estados da Federação em proficiência de ensino, temos péssimos índices de atendimento na saúde pública. Temos ainda o fato de que o Governo e nossa classe política, na qual eu me incluo, talvez tenha sido culpada a não obtenção de ganhos importantes do Estado em projetos macroeconômicos estruturantes. Nós fomos passados para trás na questão da refinaria de petróleo, na questão do porto.

A eleição proporcional é injusta? O senhor teve 105 mil votos e não ganhou, Paulo Wagner (PV) teve 55 mil votos e é deputado federal eleito.

As regras do jogo foram estabelecidas antes do jogo começar. Então não posso aqui estar dizendo que não sabia. O que aconteceu foi que as circunstâncias fizeram com que a coligação fosse aquela em que participei e que propiciaram esse embate entre o deputado Rogério Marinho e o deputado Betinho Rosado pela última vaga, que era uma questão enunciada previamente. Não tenho, como você sabe, nenhuma estrutura formal mais poderosa. Eu comecei a campanha com 11 prefeitos, terminei a  campanha com 4 prefeitos. Então não tinha blindagem, não tinha proteção. Não tinha estrutura de proteção de grande liderança, porque hoje sou líder de mim mesmo. O fato do deputado Paulo Wagner e Sandra Rosado terem tido menos votos que eu e terem sido eleitos faz parte do processo político, que  não houve a reforma política. Mas mesmo havendo a reforma política eu não defendo essa questão dos mais votados ganharem a eleição. Minha proposta é um voto distrital.

O senhor disputou diretamente com o cunhado da governadora eleita, deputado Betinho Rosado (DEM). Foi um jogo desigual?

Naturalmente há uma perspectiva de poder. Vários apoiadores que certamente optaram por sua candidatura fizeram em função da possibilidade real da governadora Rosalba ser governadora e exercer o cargo. Além do fato do deputado Betinho ser atuante e ter uma relação forte com o meio produtor rural. Ele tem votação expressiva em Mossoró.

Por que a mudança de comando de José Serra no Rio Grande do Norte, passando do senhor para os senadores José Agripino (DEM) e Rosalba Ciarlini (DEM)?

Muito natural. Agora é outra eleição. No primeiro turno existiam várias candidaturas, as candidaturas majoritárias, proporcionais. Então cada candidatura evidente que por instinto e sobrevivência se preocupou com suas candidaturas. Os Democratas deram sua parcela de contribuição. Inclusive em vários eventos em que participei ao lado da futura governadora Rosalba Ciarlini testemunhei ela pedir voto para a candidatura de Serra. O senador José Agripino foi vitorioso, tem poder de aglutinação no Estado muito maior do que o PSDB. Os Democratas aqui ganharam o Governo do Estado. Somos aliados dos Democratas, não temos nenhum problema em somar e multiplicar. O fato do senador José Agripino e, quando voltar de viagem, a governadora Rosalba Ciarlini comandarem o processo no Estado é benéfico para candidatura de Serra. Tivemos quase 30% dos votos válidos e era minha expectativa. Junto com a senadora Marina Silva tivemos 49% dos votos do Estado. Ou seja, a possibilidade de virarmos a eleição é concreta. Note que o voto dado a Serra e Marina se deu principalmente nas regiões mais escolarizadas e, portanto, com menos fragilidade econômica. A votação de Dilma se deu nos pequenos municípios, onde a população é mais dependente dos programas sociais do Governo. Vários dos prefeitos pequenos tem hoje uma relação política com o futuro governo.

O senhor concordaria que Rosalba e José Agripino fizeram, no primeiro turno, uma campanha “descolada” de Serra no Estado?

Cada campanha tem suas peculiaridades. Nas vezes em que participei o senador José Agripino pediu voto para Serra, a mesma coisa a governadora Rosalba Ciarlini, mas evidente que eles se preocuparam também com as suas candidaturas. Esse primeiro turno foi assim não só no Rio Grande do Norte, foi assim em Estados importantes como Paraná, Minas Gerais. Então, as circunstâncias do nosso processo eleitoral existem campanhas coladas, pleitos proporcionais e majoritários conjuntos confundem um pouco a cabeça do eleitor. Para ganhar eleição tem que ter estratégia. A estratégia dos Democratas no primeiro turno foi priorizar as campanhas proporcionais e majoritárias do Estado e no segundo turno todos estaremos juntos e unidos para ganharmos as eleições no Rio Grande do Norte.

Até pouco tempo o senhor integrava o grupo de Wilma de Faria, derrotada no pleito de 2010. Como o senhor avalia a situação da sua ex-líder política Wilma de Faria?

A ex-governadora Wilma de Faria fez suas escolhas. O insucesso ou sucesso é contingência da disputa eleitoral. Se assim não fosse não haveria eleição, haveria nomeação. Não acredito que a ex-governador Wilma de Faria é uma carta fora do baralho. Pelo contrário, ela é uma liderança política que teve muito mais vitória do que derrota na sua biografia, que tem dentro do Rio Grande do Norte. Uma questão que cabe a ela e a seu grupo, mas se ela tiver uma vontade de exercer essa liderança, esse protagonismo ela será e terá um peso político nas eleições de 2012 e 2014 e cabe a ela avaliar.

E com relação ao desempenho da prefeita de Natal, Micarla de Sousa, neste pleito de 2010?

A prefeita se comportou com muita discrição. Ela apresentou candidaturas proporcionais a deputado federal e a estadual, seu partido o PV apresentou. Acredito que nesse momento ela está fazendo uma avaliação do resultado do pleito. É verdade que ela passa por dificuldades administrativas, mas ela está no seu segundo ano de mandato. Nós já vimos exemplos, o próprio ex-prefeito Carlos Eduardo, que em uma ocasião similar, no segundo ano do segundo mandato, e conseguiu superar as adversidades. Micarla  tem aí as obras de mobilidade da Copa do Mundo. Acredito que ela vai fazer um grande esforço para reverter a questão da saúde que tem deixado a desejar, a questão da qualidade do ensino, os problemas relacionados a infra-estrutura da cidade. Ainda faltam dois anos e dois meses de mandato. Espero e desejo, sinceramente, que essas coisas mudem.

O PSDB hoje participa da administração de Micarla de Sousa?

Não. Nós estamos na administração talvez com 3 ou 4 cargos comissionados de terceiro escalão. Mas isso foram circunstâncias administrativas que ocorreram durante o processo. Nosso indicado para Secretaria de Turismo (Francisco Soares Júnior) precisou sair da administração em função de problemas pessoais e nós não indicamos o sucessor.

Hoje o senhor já visualiza 2012?

Nesse momento eu visualizo o segundo turno das eleições para Presidência da República. Na segunda-feira passada fomos convocados pelo presidente do nosso partido Sérgio Guerra e pelo candidato José Serra e fomos para São Paulo. Lá nós recebemos a incumbência de trabalhar a organização e estruturação da campanha no Nordeste. Segunda-feira estaremos retornando a São Paulo. Hoje sou o coordenador da campanha juntamente com o senador Cícero Lucena. Estamos extremamente motivados e fazendo um trabalho muito forte. No segundo turno da eleição anterior a campanha foi para as ruas dez dias depois. Desta feita a campanha já está na rua. A reunião que tivemos em Brasília foi extremamente motivadora.

Mas falando diretamente, o deputado Rogério Marinho já pensa em ser candidato a prefeito de Natal?

O deputado Rogério Marinho pensa em fazer um bom segundo turno e eleger José Serra presidente da República. Passado o processo você vai ter dois cenários distintos. Um primeiro cenário que para nós seria muito mais favorável, que seria a eleição de José Serra. E o segundo a eleição da nossa adversária. Diante da nova situação vamos nos posicionar em relação ao futuro do nosso partido. Hoje tenho responsabilidade que não é só com minha vida pessoal. Hoje sou líder de um grupo político. Hoje presido um partido político que, inclusive, polariza o Brasil. Temos presença em vários municípios do Rio Grande do Norte e responsabilidade de organizar o partido. Não posso fazer de projeto político pessoal um projeto político do partido. Isso  evidente que passa por discussão durante os cenários que vão ocorrer após a eleição do segundo turno.

No Nordeste, onde reside a preocupação de Rogério Marinho enquanto coordenador regional da campanha de José Serra?

Primeiro o Estado do Rio Grande do Norte estará em muito boas mãos com o senador José Agripino e a senadora Rosalba Ciarlini. Tenho absoluta convicção de que vamos ganhar a eleição no Rio Grande do Norte. O Ceará, Maranhão, Pernambuco e Bahia que são os Estados de maior densidade eleitoral e onde tivemos o maior insucesso nas urnas irão merecer uma atenção maior nas ruas. O Estado potiguar foi 51% a 49%. As regiões metropolitanas e capitais tivermos  boa performance, nossa performance não oi boa nos pequenos municípios. Vamos melhorar  nossa performance no segundo turno. Temos no Piauí candidato competitivo, em Alagoas o Teotônio Vilela, o resultado em Alagoas e Sergipe foram muito substanciais para nossas candidaturas. Junto com nossos aliados os Democratas, PPS, PMN, dissidentes do PMDB e várias  lideranças que fazem parte de partidos que não estão aliados conosco e se integraram a nossa campanha, vemos uma onda muito positiva.

José Serra virá ao Estado?

É nossa vontade e vamos trabalhar para isso. Para que ele venha não só ao Rio Grande do Norte mas a todos os Estados do Nordeste e, inclusive, se comprometa com os Estados do Nordeste, individualmente, com projetos estruturantes que possam ser resgatados durante o curso da sua administração para que não corramos o risco do que ocorreu nos oito anos da administração de Lula, onde os grandes projetos passaram ao largo do Rio Grande do Norte.

Algum motivo de arrependimento nessa campanha eleitoral?

Em 1960 alguém perguntou algo semelhante a o meu avô Djalma Marinho quando ele perdeu. Ele disse: meus adversários tiveram mais votos que eu. Não tenho arrependimento, as posições que assumi as fiz de maneira consciente em função do que pensava. As opções que tive e as decisões que tomei as tomei em respeito ao Estado do Rio Grande do Norte e a nossa história política, querendo fazer uma política maior, diferente. Nosso Estado precisa debater propostas que melhorem a situação do nosso Estado.
Fonte:Tribuna do Norte

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