Garibaldi admite sonho de voltar a presidir o Senado, mas abre mão do seu desejo em troca da eleição de Henrique para a presidência da Câmara dos Deputados

O senador Garibaldi Filho(PMDB), reeleito com mais de 1 milhão de votos, concedeu entrevista ao jornal Tribuna do Norte, edição deste domingo(17).
Como sempre, Garibaldi foi sincero em suas afirmações.
Ele admite a vontade de voltar a presidir o Senado, mas abre mão desse desejo em troca da eleição do deputado federal Henrique Alves(PMDB) para a presidência da Câmara dos Deputados.
Confira a íntegra da entrevista:
TN – O senhor encerrou a campanha e já disse que não subirá no palanque da presidenciável Dilma Rousseff quando Hugo Manso (PT) e Wilma de Faria (PSB) estiverem. Hoje esses seriam seus inimigos políticos?

GF – Nunca tive inimigos políticos. Não sou dado a polêmicas no palanque e mesmo fora dele. O que faz inimigos é justamente o arrebatamento nas campanhas, você trocar insultos, desaforos. Como nunca fiz isso eu nunca tive inimigos. O que estou fazendo agora diria que é uma espécie de legítima defesa. Fui atingido no caso do vereador (Hugo Manso). No caso da ex-governadora é uma história mais longa porque nós nos confrontamos já algumas vezes em campanhas políticas. Certamente que ela, como ganhou a última, os correligionários pediam a revanche. Anteriormente, o placar estava 2 a 1 para mim porque tinha ganho a campanha de prefeito em 1985, tinha ganho a campanha de governador em 1994 e tinha perdido a última campanha de 2006. Veio a baila que nós poderíamos ter em 2010, por parte mais dos correligionários, uma revanche. Eu, para fazer a vontade deles, dizia a brincadeira que tinha levado uma surra de saia, mas agora ia aplicar uma surra na saia. Mas era em tom de brincadeira, não tinha nada de agressivo.

TN – Então o placar hoje de Garibaldi Filho contra Wilma de Faria está 3 a 1?


GF – Exatamente, 3 a 1. Mas mesmo assim eu cumprimento ela (Wilma de Faria), diria até cordialmente, pelo menos antes dessa campanha era assim. Mas depois (da campanha) eu não a vi mais. Não tenho nada pessoalmente contra ela, contra ninguém. Eu considero isso um trunfo e um triunfo. Não representa nada você ter inimizade na política.

TN – O senhor esteve no palanque de Dilma Rousseff ao lado dos governadoráveis Iberê Ferreira e Carlos Eduardo, mas defendia Rosalba Ciarlini ao Governo. Sua posição foi tida como dúbia?


GF – Não teve nada de dubiedade. O que aconteceu foi que tomei uma atitude no Estado coerente com o que aconteceu na campanha de 2006. Em 2006 fomos para o palanque eu, José Agripino, Rosalba, ela candidata ao Senado e eu candidato ao Governo. Aí firmamos essa aliança que teve seu desdobramento no Senado. Lá nós consolidamos isso. Quando veio a campanha em que Rosalba foi candidata ao Governo não vi outro caminho que não apoiá-la no Estado, mesmo tendo que enfrentar um constrangimento de apoiar uma candidata no Estado de uma aliança e outra candidata no plano nacional.

TN – No caso do segundo turno, caso José Serra ganhe, essa sua proximidade com o senador José Agripino facilitará o senhor ser da bancada governista de Serra?

GF – No plano nacional a tendência é eu ficar com o meu partido seja o resultado qual for. Se ganhar o meu partido eu serei o companheiro de Michel Temer, que é vice de Dilma e muito ligado ao deputado Henrique. Se ganhar José Serra permanecerei no PMDB e a despeito de ter um bom relacionamento com o próprio presidente da República. Creio que o PMDB deve permanecer na oposição até para responder aqueles que dizem que o PMDB é fisiológico, que não sabe viver sem ser nas tetas do governo. Não serei seduzido por essa história de dizer que se trata da governabilidade.

TN – Por outro lado, o senhor defende que o PMDB no Estado seja Governo…


GF – Eu sinto que se não ficar ao lado de Rosalba eu vou perder toda uma história de luta ao lado dela, para construir um governo e será que tudo aquilo que eu disse na praça pública vai se transformar em mera quimera sem resultados? Vejo muito isso. Estou realmente muito empenhado em fazer com que aquilo que eu disse na campanha, já que quero exercer uma política coerente, tudo que disse possa ser transformado em realidade.

TN – O senhor já conversou com o deputado federal Henrique Eduardo Alves sobre isso?


GF – Ele sabe disso. Sabe mais do que ninguém.

TN – Não é muito conveniente para o PMDB ter oferecido apoio a Iberê Ferreira com o deputado Henrique e a Rosalba Ciarlini com o senhor? Ou seja, o partido seria governo em qualquer resultado?


GF – É, mas não teve nada disso. Parece até história combinada, que eu ficaria com Rosalba por ter maiores afinidades com ela, e Iberê ficaria com Henrique por ter maiores afinidades. Afinidade por afinidade eu também tenho com Iberê. Tudo aquilo que Henrique disse (sobre Iberê Ferreira) eu poderia dizer, até mais porque Iberê foi secretário do meu governo. O que acontece é devemos manter a coerência e sendo aqueles que não deixam de dar a política o pragmatismo, mas também tem que ter um idealismo, pregação que mostre que não é oportunista. Enfim, eu me demorei muito para responder essa pergunta para dizer que não foi uma posição oportunista essa do PMDB. As aparências enganam. As aparências podem até colaborar para uma pessoa, numa visão mais apressada, dizer que houve.

TN – O senhor me passa preocupação de mostrar que o PMDB não é um partido oportunista…


GF – É verdade. Há preocupação de lideranças do PMDB e acho que o partido é grande, diria até que meio inchado, mas que não pode se deixar seduzir por esse canto de sereia de que sendo grande terá lugar em qualquer acomodação que lhe ofereça. Ele tem que ser grande para impor suas ideias, sua prática política, para reabilitar toda sua pregação. Ele tem que ser o maior e melhor. Maior só não dá.

TN – O PMDB depois de reeleger o senhor, o deputado Henrique e fazer seis deputados estaduais, tenta se credenciar a voltar ao Executivo da capital do Estado?

GF – Faz muito tempo que o PMDB só faz apoiar. O PMDB tem dimensão para não só apoiar. Há uma certa atitude de reflexão e tenho que dar a mão à palmatória de que PMDB deve começar a pensar em disputar mesmo no primeiro turno, mesmo que no segundo turno se integre a uma coligação, para que ele exerça essa vocação do seu tamanho. Por que um partido como o PMDB não disputa uma Prefeitura de Natal, não disputa um Governo do Estado?

TN – É conveniência do PMDB colocar um candidato já pronto de outro partido ao invés de lançar um próprio?

GF – É falta de candidato. O PMDB não se abriu para colher ou atrair novas lideranças que pudessem fornecer candidatos. Ser candidato eu ou Henrique isso já é história velha. Já fomos candidato, já perdemos, já ganhamos. Eu pregar isso para as pessoas entenderem que é de novo a velha história de que é Garibaldi ou Henrique, isso não tem graça. Acho que devemos pensar nos novos e criar condições para que eles sejam efetivamente candidatos e não anti-candidatos. Também não adianta lançar só candidato para dizer que lançou. Tem que lançar candidatos competitivos e que possam atrair outros partidos, no caso de um segundo turno.

TN – Seu filho Walter Alves seria um nome para 2012?


GF – Enquanto ele for só o filho de Garibaldi, o que acho que ele não é, ele precisa convencer as pessoas, e vejo que está convencendo. Para disputar uma majoritária ele vai ter que ter personalidade própria de um político para voo maior.

TN – Walter Alves seria um nome para disputa da Prefeitura de Natal?

GF – É um nome. Ele precisa apenas vencer o desafio (de deixar de ser apenas “filho de Garibaldi”). Mas existem outros (nomes). Aqui vou apenas contar uma história, se não vão dizer que só citei Walter. Hermano Morais, que nessa campanha (de 2008) se credenciou, poderia ser candidato. Terminamos sem testá-lo. Esse é um exemplo de que não podemos mais fazer assim.

TN – O senhor terá agora oito anos de Senado pela frente. Foi sua última eleição?

GF – Não sei. Você sabe que comecei a política muito novo e eu, realmente, me tornei um político profissional, o que não queria ser. Queria ter entrado na política e na hora que quisesse sair ou devesse sair, sairia. Mas a essa altura não tenho mais ilusões de que vou ter outra opção, outra alternativa. Vou tentar permanecer na política enquanto achar que estou em condições de ser um político que mereça a confiança do povo. Se eu achar isso e aí terei que convencer o partido e outras pessoas. Não sei se poderei convencer outra vez 1 milhão de pessoas. É uma história longa que não pode ser encerrada de uma hora para outra. Foram quatro mandatos de deputado estadual, um de prefeito, dois de governador e agora três de senador. Não é fácil terminar de uma hora para outra ou melancolicamente. Só o futuro dirá, não tenho projeto para terminar. Ir para onde? Fica melancólico.

TN – O senhor será um dos homens fortes do Senado porque terá dois votos (o dele e do pai Garibaldi Alves, que assumirá na vaga da governadora eleita Rosalba Ciarlini)?


GF – Até que ninguém terá lá como nós vamos ter, eu e meu pai teremos dois votos em casa. As vezes há questão lá que se decide por um voto, dois votos. Eu vou procurar juntamente com papai vermos isso com muito cuidado e muita atenção para não parecer que estamos querendo nos aproveitar dessa situação. A correlação de forças do Senado é sempre meio apertada.

TN – Nesse terceiro mandato onde o senador Garibaldi quer estar?

GF – Para não ser hipócrita diria que se pudesse eu voltaria para Presidência do Senado. Foi um período curto, mas que me realizou bastante. Mas eu tenho muita consciência das minhas limitações e tenho também um dever: o dever que não é propriamente familiar, é o dever de colaborar, mesmo em outra casa, para ver o deputado Henrique Eduardo presidente da Câmara. Vejo que a chance dele agora é muito maior do que a minha, se você pensar em termos de articulação política, de aglutinação, apesar de eu estar falando antes da eleição de Presidente da República. Uma coisa é a candidatura de Henrique com Dilma eleita, outra coisa é a candidatura de Henrique com Dilma e Michel não eleitos.

TN – Mas vão intercalar PT e PMDB na Câmara. A presidência do Senado não estaria descartada para o senhor?

GF – Vejo as coisas com muito realismo. O deputado Henrique tem hoje, efetivamente, a liderança da bancada. Eu, se você pensar no Senado, não tenho. Se você perguntar se tenho liderança? Não. Eu tenho os dois votos (dele e do pai Garibaldi Alves). Mas a liderança da bancada eu não tenho porque o PMDB vai ter a maioria dos Senadores, mas nós não sabemos quem vai assumir essa liderança. A bola da vez está com Henrique para ele fazer o gol. Ele tem méritos para isso e tem 11 mandatos. É muito respeitado e tem muita vocação para liderar. A vez é dele.

TN – O fato de ter tido 1 milhão de votos isso coloca o senhor como a maior liderança do PMDB no Estado?

GF – Não. Gostam muito de dizer que não sou líder, mas sou campeão de votos. Não sei qual é a diferença disso. Não há muita diferença como as pessoas querem dizer. Mas não há porque a gente deixar de dizer que no PMDB não há uma só liderança, há duas lideranças. Uma liderança complementa a outra. Sempre fizemos isso muito bem, eu e Henrique, só falhamos agora. Com relação ao PMDB as pessoas veem Henrique com umas qualidades e me veem com outras e a gente faz aquela fusão.

TN – Se o senhor encontrasse duas pessoas na rua: uma seria o senador José Agripino o senhor diria o que?

GF – Agora diria parabéns.

TN – E para ex-governadora Wilma de Faria?


GF – Agora você me pegou mesmo porque eu não gosto de ser hipócrita. Diria a ela, dependendo do horário do dia, bom dia, boa tarde ou boa noite.
Fonte:Blog do Oliveira

Deixar um comentário