Henrique Alves: “O PMDB não cederá um milímetro nos seus direitos nem ousará faltar um milímetro nos seus deveres. Essa é a síntese do partido”
Líder do PMDB e candidato à presidência da Câmara, Henrique Eduardo Alves(foto) explicou como seu partido negociará a participação no governo Dilma Rousseff: “O PMDB não cederá um milímetro nos seus direitos nem ousará faltar um milímetro nos seus deveres. Essa é a síntese do partido”.
Em entrevista ao blog de Josias de Souza, Henrique Alves se esforçou para jogar água na fervura que aquece as relações do seu partido com o petismo: “Ninguém está apostando em confronto com o PT. Não haverá. Não há a menor hipótese”.
Informou, porém, que o PMDB não abre mão de manter sob Dilma os seis ministérios que obteve na gestão Lula, à qual se incorporou em 2007. A partilha da Esplanada foi aberta na noite passada, em jantar que reuniu o vice-presidente eleito Michel Temer e o presidente do PT, José Eduardo Dutra.
Confira a entrevista de Henrique ao blog de Josias:
– Soube que o sr. e Cândido Vaccarezza [candidato do PT à presidência da Câmara] firmaram um armistício. É fato?
Henrique – Sim. Vamos tirar isso de pauta agora, porque é coisa para se resolver só em fevereiro. Temos uma pauta complicada pela frente: mais de dez medidas provisórias para votar e a formação do governo, que exige entendimento entre os aliados. Esse assunto [o comando da Câmara] pode aguardar um pouco.
– Como será negociada a participação do PMDB no novo governo?
Henrique – O PMDB não cederá um milímetro nos seus direitos nem ousará faltar um milímetro nos seus deveres. Essa é a síntese do partido.
– Acha possível resolver pacificamente as pendências com o PT?
Henrique – Ninguém no PMDB está apostando em confronto com o PT. Não haverá. Não há a menor hipótese.
– Definiu-se que PMDB e PT dividirão o comando da Câmara na próxima legislatura. Mas ambos querem ocupar a presidência no primeiro ano. Como resolver?
Henrique – Na atual legislatura, a maior bancada é a nossa. Tivemos o bom senso de entender que, em nome do melhor relacionamento, era importante fazer uma concessão. E fizemos. No primeiro biênio, foi o Arlindo [Chinaglia]. E, só depois, o Michel [Temer]. Não há razão para mudar esse critério.
– A partir de 2011, o PMDB terá menos deputados que o PT. Isso não enfraquece a sua posição? Henrique – Não enfraquece porque, na atual legislatura, o PT era a menor bancada e, por boa vontade do PMDB, ocupou a presidência antes de nós. Foi um gesto que fizemos para conciliar.
– No Senado, o PMDB invoca a condição de dono da maior bancada para reivindicar a presidência, não?
Henrique – No Senado é diferente. É uma questão regimental, está previsto no regimento que o maior partido tem direito de indicar o presidente. Não dá para envolver o Senado na negociação da Câmara.
– Como obter um consenso na Câmara?
Henrique – Quem vai ser o primeiro ou o segundo, o tempo dirá. O importante é que PT e PMDB se entendam nesse revezamento. Deu certo no governo Lula e, agora, tem mais razões ainda para dar certo. Não teremos mais o Lula, que matava no peito e resolvia as questões. Tinha crise, dificuldade, derrota, o Lula chamava e resolvia. Dilma vai ter que ser muito mais ajudada pelo conjunto dos partidos. Nós vamos ajudar.
– E quanto aos outros partidos com direito a voto na Câmara?
Henrique – Num primeiro momento, é preciso construir um entendimento entre os dois maiores partidos, o PMDB e o PT. Isso já será um sinal de maturidade. Num segundo momento, aquele que for escolhido terá de tentar ser o candidato de toda a Câmara, um representante das forças do governo e da oposição, do maior ao menor partido. Até porque, aquele que for o presidente terá o dever de encaminhar reformas importantes, como a política e a tributária. Será necessário o consenso.
– O DEM parece preferir o nome de Vaccarezza ao seu. Alega que o PMDB não pode presidir as duas Casas. Como reverter?
Henrique – Seria uma incoerência. Há dois, anos o DEM veio conosco, ajudou a eleger o Michel [Temer]. Não questionou que o Senado fosse nosso também. Não creio que será diferente agora.
– Acha que a fricção entre PMDB e PT pode resultar em desavença?
Henrique – Quem quiser incendiar isso aí [a disputa pelo comando da Câmara] não vai encontrar pólvora. Eu não vou deixar. Temos o dever de nos entender. O PMDB está num novo momento. Não tem esse negócio de brigar por cargos, criar problemas. Temos que ir para o governo [Dilma] ajudando a construir. É diferente do outro [o de Lula], que a gente apoiou e encontrou pronto. Agora, nós somos coresponsáveis.
– Legendas como o PSB reivindicam ministérios comandados pelo PMDB. O da Integração Nacional, por exemplo. O que acha?
Henrique – Veja bem, o PT tem 15 ministérios, o PMDB tem apenas seis. Fala-se em dispor da Saúde, da Integração… Mas alto lá! O PMDB tem hoje o tamanho que o Lula reconheceu na hora em que apoiamos o governo [em 2007]. Agora, nós ajudamos a construir a vitória [de Dilma]. Tem gente nossa que quer inclusive ampliar a participação.
– Acha que deve ser ampliada?
Henrique – Não. O PMDB deve ficar do tamanho que está. Para ampliar, seria preciso tomar alguma coisa de alguém. E não queremos tomar nada de ninguém. Vamos ficar com o que temos. Não adianta ficarmos satisfeitos e os outros partidos da coligação ficarem insatisfeitos. Nós temos que ajudar. Não teremos mais o Lula, que resolvia tudo. É hora de construir.
– Inclui o Banco Central de Henrique Meirelles na conta de seus ministérios?
Henrique – Não. Os nossos ministérios são: Saúde, Integração Nacional, Agricultura, Comunicações, Minas e Energia e Defesa. Lula reconheceu esse tamanho do PMDB na hora que o apoiamos. Agora, nós participamos da vitória. Poderíamos pensar em mais. O PT tem 15 ministérios. Mas não adianta pensarmos em mais. Estamos preocupoados com o conjunto da coligação. Queremos ajudar a presidente Dilma a substituir o Lula, uma tarefa quase impossível. Nós seremos parceiros nisso.
– O PMDB admite trocar seus ministérios por outros?
Henrique – A questão não é só de quantidade, mas de qualidade. Muitos dos nossos gostariam também de trocar. Há a pasta dos Transportes, a das Cidades… Mas, para mexer, desarruma. Por isso, o PMDB quer apenas preservar os espaços que obteve, ainda que agora o partido tenha ajudado a construir a vitória. Deixa como está. Vamos colaborar. O PMDB é, hoje, um novo partido.
– Como assim?
Henrique – Alcançamos a maturidade. O partido já errou muito, já apanhou muito. Tinha aquela briga intestina do grupo da Câmara com o do Senado, que nos prejudicou muito. Agora, estamos unidos. Essa união é a nossa força. Hoje, o Michel [Temer] fala por todo o partido. É um avanço extraordinário.
Fonte:blog do Oliveira