Nova Cruz/RN -

Preenchido o ministério, partidos cobiçam 2º escalão

Guarda-chuva do Estado abriga 53 mil órgãos  públicos

Sem alarde, PT e PMDB mapeiam as principais cadeiras
Cargos mais cobiçados somam cerca de 600  poltronas
Dilma vai lidar com a encrenca no 1º trimestre de 2011 
Arte/UOL
Eleita com 55 milhões de votos, Dilma Rousseff foi à cadeira de presidente carregada pelo segundo maior índice de aprovação que as urnas já conferiram a alguém. Superou-a apenas o Lula de 2006, que obteve pouco mais de 58 milhões de votos. A despeito disso, Dilma vê-se às voltas com o mesmo dilema que assediou seu patrono.
Manuseia a caneta das nomeações de olho no Congresso, uma arena onde estão em jogo escassos 594 votos –513 deputados e 81 senadores. Rodeada por megacoligação que congrega uma dezena partidos, Dilma colecionou insatisfações na costura de seu ministério.
O excesso de dissabores aguçou o apetite das legendas pelos cargos de escalões inferiores. Precipita-se um processo que só costuma ser deflagrado depois da Quarta-feira de Cinzas do ano da posse de novos presidentes da República.
Sem alarde, PT e PMDB, os sócios majoritários do consórcio governista, mapeiam as principais posições antes mesmo de o Carnaval chegar. O mapa da guerra está disponível na web, num sítio acomodado no portal do Ministério do Planejamento. Chama-se Siorg.
Significa Sistema de Informações Organizacionais do Governo Federal. Criado sob FHC, cataloga, hoje, 53 mil órgãos públicos. Anota os nomes de 49.500 titulares de cargos. Sonega, porém, o essencial: os nomes dos padrinhos das nomeações sujeitas à influência política.
Dilma lida com profissionais do ramo do fisiologismo. No governo desde a Presidência de José Sarney, o PMDB sabe onde estão as poltronas mais confortáveis. No poder desde 2003, o PT aprendeu o caminho das pedras –e das verbas— nos oito anos de duração dos dois reinados de Lula.
Assim, Dilma está cercada de políticos que sabem onde estão as cerca de 5.000 cadeiras mais cobiçáveis da República. O lote mais disputado roça a casa dos 600 assentos. Um detalhe os torna mais atrativos que os demais: seus ocupantes manuseiam o talão de cheques.
Nos subterrâneos, Dilma impõe um dique às legendas. Sinaliza a intenção de tratar da composição dos postos situados abaixo dos ministros ao longo do primeiro trimestre de 2011. Recusa o açodamento. Recorda que chefiará um governo de “continuidade”. Algo que torna a pressa injustificável.
O problema é que, sob o discurso da calma, os partidos farejam na movimentação da própria Dilma o cheiro de encrenca. O PMDB, por exemplo, contabiliza os prejuízos que sobrevirão da perda do Ministério das Comunicações.
Paulo Bernardo (PT) vai à cadeira que foi de Hélio Costa (PMDB) com ordens para ‘despemedebizar’ os Correios, “profissionalizando” a gestão. Vai à bandeja, por exemplo, o escalpo do presidente da estatal, David José de Matos. Indicação de Tadeu Filipelli (PMDB-DF), vice-governador eleito do DF e amigo de Erenice Guerra.
Mesmo nas pastas que conseguiu reter, como a de Minas e Energia, devolvida ao sarneyzista Edison Lobão, o PMDB convive com o desconforto. Deve perder no setor elétrico posições que considera mais valiosa$ que o posto de ministro.
Por exemplo: na presidência da Eletrobras, Dilma deseja acomodar Márcio Zimmermann, de sua confiança, no lugar de José Antonio Muniz Lopes, apadrinhado de José Sarney. Na Eletronorte, pretende-se desalojar gestores indicados por Jader Barbalho, convertido em ex-senador pela Lei da Ficha Limpa.
Em Furnas, Dilma deseja extirpar a influência exercida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um deputado do grupo do vice-presidente Michel Temer. Presidente do PSB, o governador pernambucano Eduardo Campos tenta manter na presidência da Chesf Dilton da Conti.
A disputa se estende à Petrobras, outra estatal que pende do organograma da pasta de Minas e energia. Ali, além da já anunciada manutenção do petista Sérgio Gabrielli na presidência, o PT reivindica a preservação de seus diretores e trama desalojar da diretoria Internacional Jorge Zelada, funcionário de carreira avalizado pelo PMDB.
Se prosperarem os planos do PT, a presença do PMDB na Petrobras ficaria reduzida ao comando da Transpetro, uma podero$a subsidiária que Lula confiou, no alvorecer de sua gestão, a Sérgio Machado, um afilhado do grão-pemedebê Renan Calheiros.
Na área econômica, PT e PMDB miram a presidência do Banco do Brasil, hoje confiada a Aldemir Bendini. Dilma até cogita substituir Bendini, mas não planeja levar a poltrona ao balcão das transações políticas. Para evitar que a cobiça chegue à Caixa Econômica, insinua desde já a intenção de manter Maria Fernanda Ramos Coelho.
Foram à alça de mira dos partidos também as agências reguladoras. Até março, terão de ser substituídos 14 diretores de agências cujos mandatos expirarão. Daí a sanha. Também aqui, Dilma tenta impor um dique às nomeações partidárias. Na campanha, prometeu “profissionalizar” as agências.
Como se vê, vencida mal se livrou da azáfama que marcou a composição de seu ministério, Dilma já ouve no sótão de seu governo nascente os surdos e as cuícas do segundo escalão. O baticum tende a se tornar ensurdecedor quando janeiro chegar.
Fonte:Blog do Josias

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