Especialistas dizem que Dilma pode crescer junto ao eleitorado com medidas anti-corrupção
Cientistas políticos e líderes da base aliada preveem dificuldades para o governo e o PT, na volta do recesso parlamentar, por causa da crise nos Transportes.
Para eles, a presidente Dilma Rousseff não terá a solidariedade da classe política, mas receberá o apoio do cidadão honesto, que não aguenta mais impunidade e anseia por uma intervenção ética no setor público. Também acreditam que Dilma crescerá no eleitorado de classe média que, no ano passado, votou no tucano José Serra.
O professor de Ciências Políticas da UnB, Ricardo Caldas, diz que o movimento da presidente é positivo. No entanto, crê que ela terá muita dificuldade para romper com práticas tão danosas e arraigadas, algumas centenárias, como o nepotismo e o apadrinhamento político:
– Lula tem um pouco de razão ao temer o isolamento dela na base, porque, quanto mais a presidente procurar, mais vai encontrar e terá que tomar decisões difíceis. Mas não terá o apoio só da classe média, terá o apoio de todo cidadão honesto que quer o fim da impunidade – disse Caldas.
O cientista político Leonardo Barreto, do Instituto FSB, lembra que, todas as vezes em que um presidente brigou com a classe política tradicional, o desfecho não foi bom, casos dos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor. Considera que Dilma ainda tem muita gordura para queimar e que, se a popularidade continuar alta, sairá em vantagem:
– O que os partidos vão observar na hora de revidar? O nível de popularidade da presidente. Se estiver alto, vão se sentir mais intimidados. Nunca vi no governo Lula editoriais dos grandes jornais apoiando movimento nesse sentido. Então, o primeiro efeito é que Dilma avançará sobre um eleitorado que não é o que a elegeu, que é o de Serra, a classe média e média alta – disse.
Acrescentando: Esses partidos, principalmente o PR, não vão migrar para uma oposição aberta. Se um partido da base resolver endurecer, pode sair fragmentado.
Para acalmar os aliados e evitar um isolamento da presidente no Congresso, líderes governistas cobram da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que comece a discutir a abertura do cofre para pagamento de emendas de parlamentares ao Orçamento. Ela também deverá negociar a ocupação de cargos de segundo e terceiro escalões pendentes.
Mesmo com o Congresso em recesso, o clima entre os governistas é de apreensão com o comportamento de Dilma, que demite sem consultar ou dar satisfações ao PR. Embora a maioria admita que as demissões são necessárias, a previsão é que Dilma enfrentará reações, não só de uma parcela do PR, mas de outros partidos da base, preocupados com a possibilidade de serem as próximas vítimas da faxina.
– É quase inevitável que a faxina atinja outras áreas, se Dilma está com toda essa disposição. Acredito que vai ficar pouca gente ligada ao ex-presidente Lula no governo – previu um senador governista.
Há quem aposte que o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, seja o primeiro alvo dos descontentes: a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou para o início de agosto a votação do requerimento de convocação do petista Expedito Veloso, que declarou à revista “Veja” que Mercadante tinha conhecimento do chamado dossiê dos aloprados contra o seu adversário tucano na disputa pelo governo de São Paulo em 2006, José Serra.
Para conter esse clima de rebelião, alguns governistas aconselharam Ideli e a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a procurarem representantes do PR, para pacificar a legenda.
– Tem que haver uma recomposição com o PR, mesmo porque temos uma pauta delicada na volta do recesso. As providências são necessárias, mas é fundamental que o partido seja consultado – advertiu o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP).
O líder do PP na Câmara, deputado Nélson Meurer (PR), avisou:
– O que a presidente está fazendo no Dnit, vamos avaliar com outros partidos na volta do recesso. O que tem nos preocupado é que votamos tudo que Dilma quis, mas vamos ter dificuldade de segurar nossos liberados se nada acontecer em relação a liberação e empenho de emendas.
Fonte: Jornal O Globo