Temer intervém para tentar conter a rebelião do PMDB

Sérgio Lima/Folha

Nesta terça (23), Michel Temer ofecerá um jantar no Palácio do Jaburu, a residência oficial dos vice-presidentes da República.

Além do anfitrião, vão à mesa Dilma Rousseff, congressistas e ministros do PMDB. Tenta-se exibir uma unidade que inexiste.

Sócio majoritário do condomínio governista, ao lado do PT, o partido de Temer está trincado. Às rachaduras do Senado, acrescentaram-se as frinchas da Câmara.

Nos dois casos, encontram-se na berlinda os líderes. Renan Calheiros, o líder do Senado, lida há tempos com um grupo de oito senadores “independentes” –o G-8.

A novidade é que também Henrique Eduardo Alves, o líder da Câmara, passou a ser fustigado por cerca de 35 deputados descontentes.

Na noite desta segunda (22), munido de panos quentes, Temer recebeu no gabinete da vice-presidência 12 dos rebelados da Câmara.

Presente ao encontro, Henrique Alves comprometeu-se a afinar os ouvidos. Disse que intensificará os contatos com os “liderados.”

O problema é que o monturo de queixas é do tamanho do PMDB. Tão grande que talvez não caiba no par de tímpanos de que dispõe o líder.

O pequeno grupo reunido ao redor de Temer é retrato da confederação de interesses em que se tornou o PMDB.

Lá estavam, por exemplo, sobrenomes conhecidos: Renan Filho (AL), primogênito de Renan Calheiros; e Lúcio Vieira Lima (BA), irmão de Geddel Vieira Lima.

Renanzinho e Lúcio brigam por influência e espaço –na bancada e no governo. O diabo é que, por vezes, esbarram em interesses do PT.

Por exemplo: o PMDB baiano do deputado Lúcio pega em lanças por um cargo no DNPM da Bahia. O governador petê Jaques Wagner joga contra.

Danilo Forte (CE), outro deputado que despejou críticas na sala de Temer, ressente-se da perda de controle sobre a Funasa, máquina de votos da Saúde.

Rose de Freitas (ES), outra que foi chorar as pintangas na sala de Temer, inserge-se contra Pedro Novais, o amigo de José Sarney que responde pela pasta do Turismo.

Vice-presidente da Câmara, Rose cobra a saída de Novais da poltrona de ministro. Uma encomenda que nem Temer nem Henrique parecem dispostos a entregar.

Havia também na sala de Temer insurretos que dão de ombros para cargos: Osmar Terra e Darcísio Perondi, ambos do PMDB gaúcho.

Terra e Perondi compõem uma dissidência à parte. Integram um grupo de 14 deputados pemedebês que votou no tucano José Serra na eleição presidencial de 2010.

Divergem por achar que Henrique Alves negligencia temas que deveriam ser caros ao PMDB. Exigem, por exemplo, a votação da Emenda 29.

Trata-se daquela proposta que eleva as verbas para a Saúde, contra a qual Dilma Rousseff se bate.

Afora a briga por cargos e por projetos, o motim do PMDB da Câmara é feito de verbas. Deputados de primeiro mandato queixam-se da liberação das célebres emendas.

A esse pedaço do grupo de amotinados, Henrique alves responde que parte dos milhões que o Planalto está na bica de liberar contempla também as emendas dos noviços.

De resto, a rebelião do PMDB é adensada por descontentes com o supostos privilégios patrocinados pelo líder na designação de relatores de MPs e de projetos.

As críticas se avolumaram depois que Henrique indicou o amigo Eduardo Cunha (RJ) para relatar o projeto que vai revisar o Código Civil.

A esses, Henrique responde que respeita a fila. Munido de uma lista de 27 indicações que encaminhou à presidência da Câmara, ele explica que leva quem pede primeiro.

No caso de Eduardo Cunha, o pedido foi feito em fevereiro. As insatisfações ultrapassam as fronteiras do PMDB, chegando às franjas do STF.

É esse PMDB dividido que Michel Temer levará à presença de Dilma na noite desta segunda-feira. É improvável que o repasto resulte em união.

Os desunidos reclamam por certos tipos de alimentos que não cabem num prato de comida.

Fonte:Blog do Josias

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