PSDB trabalha para isolar Serra e incensar Aécio
Pesquisa encomendada pelo partido indica necessidade de renovação de quadros e ideias como saída para ser competitivo em 2014
Por Rudolfo Lago
Avaliação da cúpula tucana é que o tempo de Serra já passou, mas Aécio precisa se empenhar para se destacar mais no cenário político – PSDB/MG
Do limão, uma limonada. É o que o PSDB pretende fazer com os dados da pesquisa que encomendou ao instituto do consultor de marketing político Antônio Lavareda. À primeira vista, os dados da pesquisa não são nada bons para o PSDB. Eles mostram uma imensa popularidade da presidenta Dilma Rousseff e, especialmente, do ex-presidente Lula. Mostram também que, hoje, os tucanos não teriam a menor chance numa disputa com qualquer um dos dois. Mas a pesquisa mostra também em que pontos o PSDB e a oposição erram, e o que é preciso fazer para que o partido se mostre competitivo nas eleições municipais do ano que vem e na eleição presidencial de 2014.
É essa a leitura que está sendo feita pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Hoje (29), ele estará em Goiânia apresentando a pesquisa aos governadores do partido. Desde que os dados foram apresentados a ele por Lavareda, é o que Sérgio Guerra vem fazendo em encontros internos do PSDB. Os números da pesquisa são apresentados aos interlocutores de Guerra e, sobre eles, a cúpula do partido discute o que deve fazer.
“A pesquisa indica uma estrada a percorrer. Mas indica também que é preciso, na saída, remover um obstáculo”, diz um dos tucanos que já viu e discutiu os dados da pesquisa. O problema para o PSDB é que esse obstáculo foi o nome escolhido em duas das últimas três eleições presidenciais para representar o partido na disputa: José Serra. A leitura feita pela pesquisa é que as chances do PSDB residem em resgatar suas bandeiras originais, de defesa da social-democracia como partido de centro-esquerda, mas renovando essas bandeiras diante de um país que mudou. Essa renovação, avalia-se, não pode se dar com a insistência de uma cara identificada ao que não funcionou nos últimos anos.
Daí, a necessidade de deixar claro desde já que a próxima opção eleitoral do PSDB não será de novo Serra. Nem nenhum outro político de origem paulista (casos de Serra, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso – que é carioca de nascimento, mas construiu sua carreira em São Paulo). A pesquisa identifica ainda que não há hoje um discurso alternativo identificado com o PSDB na sociedade. Por isso, Sérgio Guerra já declarou que sua intenção é antecipar o lançamento da próxima candidatura do PSDB à Presidência, definindo-a logo depois das eleições municipais do ano que vem. Como, por enquanto, a única alternativa posta é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o quadro apresentado pela pesquisa o favorece. A intenção é abrir o caminho, até depois das eleições, para diminuir a influência atual de Serra e do grupo paulista e criar as condições para construir a candidatura de Aécio em 2014. É por essa razão que as maiores reações à divulgação de dados da pesquisa vieram justamente de políticos ligados ao grupo de Serra, como o ex-deputado Jutahy Magalhães (BA).
Hoje, não daria para ganhar
A pesquisa de Lavareda mostra que o PSDB teve, nas três últimas eleições presidenciais, uma votação sempre ascendente. É um sinal de que ela, provavelmente, poderia crescer mais em 2014. Mas também revela que, mantido o mesmo ritmo de crescimento, o candidato tucano não seria capaz de vencer seu adversário do grupo governista. Ou seja: o PSDB precisa encontrar meios de crescer em outros nichos do eleitorado que hoje não fecham com o governo. Os que foram eleitores de Marina Silva, candidata do PV em 2010, por exemplo.
O que espanta fundadores do PSDB é que os dados mostram que, hoje, o partido aparece para boa parte dos eleitores como uma alternativa conservadora, de direita, por conta das opções que fez desde que chegou ao poder com Fernando Henrique Cardoso. Quando surgiu, o PSDB era uma reação ao fato de que o PMDB, no poder com o então presidente José Sarney, dava uma guinada para a direita. Os que deixaram o partido para fundar o PSDB apresentavam-se como defensores da social-democracia, de centro-esquerda. Ocorre que o PSDB, ao chegar ao poder, aliou-se ao PFL (hoje DEM) e também deu uma guinada à direita.
O que o partido pretende buscar é resgatar suas bandeiras originais renovando-as, diante do fato de que o país e o mundo mudaram muito da fundação do PSDB em 1988 para cá. A pesquisa mostra que as duas palavras que estão na sigla do partido, social e democracia, têm forte apelo junto à sociedade. O problema é que o eleitor nem lembra muito que elas estão na sigla do PSDB. Há, avalia a cúpula tucana, um grande problema de comunicação no partido. Nas campanhas de Alckmin e de Serra, o PSDB ao mesmo tempo escondeu o que fizera de bom no governo Fernando Henrique e não foi capaz de construir um discurso alternativo ao que fez o governo Lula.
Fonte:Congresso em Foco