Renan agora quer expandir poderio na Câmara

EduardoCunhaAlanMarquesFolha

Devolvido à presidência do Senado pelos votos de 70% dos senadores, Renan Calheiros deu mostras de que deseja mais poder. No final de semana, tentou expandir seus domínios ao PMDB da Câmara. Tramou para levar o goiano Sandro Mabel à liderança da bancada de deputados. Perdeu. Por 46 votos a 32, o deputado Eduardo Cunha, do Rio, prevaleceu sobre o preferido de Renan em disputa realizada na noite passada.

Desafeto de Dilma Rousseff, Eduardo Cunha chega ao posto de líder do PMDB como um fio desencapado. Abandonado pela cúpula da legenda, o deputado tornou-se intérprete dos rancores da bancada. Ao discursar, disse que sempre defendeu o governo e que continuará defendendo. “Mas sem submissão”, ressalvou, num prenúncio de que deve ser um líder mais encrespado do que o colega Henrique Eduardo Alves, que deixou o posto para tornar-se presidente da Câmara.

Tidos como aliados de Cunha, Henrique Alves e o vice-presidente Michel Temer tomaram distância dele. Mais: para não atiçar os humores de Dilma, tentaram desligá-lo da tomada. Temer fez corpo mole. Henrique acionou um assessor para trabalhar por Sandro Mabel, o rival de Cunha.

Foi contra esse pano de fundo envenenado que Renan se deu conta de que o nariz, além de brilhar e espirrar, também pode se meter onde não é chamado. Auxiliado por outros três senadores –José Sarney, Jader Barbalho e Eunício Oliveira— Renan pôs-se a procurar deputados para pedir que votassem em Mabel. O movimento foi farejado na noite de sábado, num jantar oferecido pelo deputado Danilo Fortes (PMDB-CE).

Ao sentir o cheiro de queimado, aliados de Cunha foram a Renan e a Temer. Ameaçaram divulgar um manifesto para denunciar a interferência alienígena dos senadores. Algo que ressuscitaria a velha rixa entre o PMDB da Câmara e o do Senado, que se imaginava superada. Munido de panos quentes, Temer recebeu vários deputados e conversou com Eunício Oliveira, o novo líder do PMDB no Senado. A rebelião foi contida. Mas a atmosfera manteve-se eletrificada.

A escolha do líder na Câmara exigiu dois turnos de votação. Havia três candidatos. Dos 81 deputados do PMDB, compareceram 80. Noves fora dois votos brancos, Cunha obteve 40; Mabel, 26; e o gaúcho Osmar Terra, 13. Faltou um voto para que a vitória de Cunha se materializasse já no primeiro turno. Por ironia, o único ausente –o paranaense Odílio Balbinotti— era eleitor de Cunha.

Presente, Henrique Alves teve a oportunidade de intervir para evitar, por desnecessária, a realização do segundo turno. Com seus 40 votos, Cunha confirmaria o favotismo ainda que todos os 13 votos dados a Terra fossem somados aos 16 de Mabel. Henrique absteve-se de intervir. Limitou-se a informar que votara em branco. Realizada a segunda votação, Cunha venceu por 46 a 32. O placar expõe uma bancada trincada.

Cunha vai à cadeira de líder sem dever nada às principais estrelas do partido. Acudiram-no o governador do Rio Sérgio Cabral, o prefeito carioca Eduardo Paes e o madachuva do PMDB baiano Geddel Vieira Lima. Deve mais aos três do que a Temer e a Henrique Alves. Está livre para vocalizar, sem freios, as insatisfações e os apetites da bancada. De antemão, emite uma avaliação e um aviso. Avalia que o PMDB está subrepresentado no governo. Avisa que vai guerrear pelas emendas orçamentárias dos deputados. Quer aprovar emenda que obrigue o governo a pagar.

Fonte:Blog do Josias

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