Cúpula do DEM tenta levar o partido para Aécio

Em disputas presidenciais anteriores, o apoio do DEM aos candidatos do PSDB era tido como automático. Hoje, tenta-se arrancar a fórceps o entendimento que costumava nascer de parto natural. Num instante em que pedaços da legenda flertam com Eduardo Campos (PSB), a cúpula do DEM opera para fechar com o tucano Aécio Neves.

Convidado para o jantar que Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) ofereceu a Eduardo Campos na semana passada, o senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM, preferiu não dar as caras. Depois, explicou-se a um amigo: “Se o DEM tirar o pé de apoio do Aécio, a candidatura dele morre. E a disputa de 2014 pode terminar sem um segundo turno.”

Em privado, Agripino declara-se convencido de que, de um modo ou de outro, Eduardo Campos e Marina Silva serão candidatos. Mas acha que, sem Aécio no páreo, Dilma Rousseff pode reeleger-se no primeiro round da disputa. Daí sua preocupação com o “pé de apoio” do tucano, que está na bica de perder o suporte do ex-PPS (agora MD), e ainda não seduziu nenhuma outra legenda.

Há quatro dias, o DEM reuniu em Brasília sua Executiva nacional. Cacique da tribo no Mato Grosso, o senador Jayme Campos pediu a palavra. Candidato à reeleição, disse que planeja apoiar o colega Pedro Taques (PDT-MT) para o governo do Estado e Eduardo Campos para presidente. Queria saber se a direção do partido iria impor o nome de Aécio às seções estaduais. A resposta foi negativa.

Na véspera dessa reunião da Executiva do DEM, Jayme comparecera ao jantar com Eduardo, aquele do qual Agripino preferira se ausentar. Indagara ao presidenciável do PSB se o seu comboio não poderia recuar. E Eduardo lhe dissera dissera que seu projeto já não comporta marcha à ré. Para enfatizar, comparou-se ao avô Miguel Arraes: com a metralhadora dos militares no peito, ele não recuou, disse.

Movimentos como o de Jayme Campos dão uma ideia do que se passa no DEM. A cúpula puxa o partido para Aécio. Parte dos diretórios estaduais move-se no rumo de Eduardo –sobretudo no Nordeste e no Centro Oeste. Note-se, a propósito, o que se passa em Goiás. Ali, quem dirige o DEM é o deputado Ronaldo Caiado, líder do partido na Câmara. Ele também se achega a Eduardo.

Caiado sonha em governar Goiás. Na pior hipótese, quer disputar uma cadeira no Senado. No momento, troca figurinhas Vanderlan Cardoso, um ex-deputado estadual que, sem partido, cogita sentar praça no PSB. Os dois esboçam um acerto: em 2014, quem estiver mais bem posto concorre ao governo. O outro disputa o Senado. Tudo isso numa chapa enganchada à candidatura presidencial de Eduardo.

Nessa hipótese, o DEM de Goiás daria as costas às pretensões reeleitorais do governador tucano Marconi Perillo, negando palanque a Aécio. O entendimento entre Caiado e Vanderlan interessa muito a Eduardo, que acaba de perder para o PMDB o empresário José Batista Júnior, o Júnior do Friboi, que disputaria o governo goiano pelo PSB.

É contra esse pano de fundo esgarçado que o comando federal do DEM tenta ao menos entregar o seu tempo de tevê a Aécio. Hoje, são escassos 46 segundos. Porém, se for aprovada uma emenda que Caiado injetou no projeto de lei que inibe a criação de novos partidos, o DEM voltará a dispor de cerca de 3 minutos. O tamanho da vitrine eletrônica é importante. Mas a essa altura o DEM é vital para Aécio em qualquer hipótese.

A despeito da preferência tática por Aécio, o comando do DEM não tem como impor sua opção aos Estados. Num encontro realizado em 8 de janeiro, em Salvador, a legenda decidira que priorizaria em 2014 a obtenção de cadeiras no Congresso. Ficou acertado que os diretórios estaduais teriam liberdade para fechar os acordos mais convenientes.

Assim, caminha-se para um cenário em que o DEM deve entregar seu tempo de propaganda a Aécio no plano federal e liberar os diretórios para abrir os palanques à candidatura de Eduardo onde o acordo com o PSB se revelar mais vantajoso. Para obter esse arranjo precário, o PSDB terá de discutir sua relação com o velho parceiro, revalorizando-o. A caciquia do DEM acha que a ficha do tucanato ainda não caiu.

Fonte:Blog Josias de Souza

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