Recuperação do setor deve demorar

As notícias para o setor sucroalcooleiro, que ajuda a mover a economia em municípios como Baía Formosa e Ceará Mirim, não são muito animadoras. O volume de chuva que caiu no Rio Grande do Norte durante o primeiro trimestre do ano ficou muito abaixo do esperado, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). Situação que tende a se agravar. Segundo o órgão, choveu 166,9 milímetros (mm) em todo RN entre janeiro e março. O esperado era chover 323,6 mm nos três primeiros meses do ano. Sem chuvas, algumas usinas adiaram o plantio.

Antes da seca, o setor sucroalcooleiro dispensava metade dos funcionários para depois contratá-los. Agora, a quantidade que retornará aos canaviais é uma incógnita
Antes da seca, o setor sucroalcooleiro dispensava metade dos funcionários para depois contratá-los. Agora, a quantidade que retornará aos canaviais é uma incógnita

Segundo estimativas da Associação de Plantadores de Cana do RN, mesmo que chova, o setor levará pelo menos três anos para recuperar o que perdeu. O Sindicato da Indústria de Álcool dos Estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí foi procurado para comentar as projeções e confirmou que a situação é crítica.

A desaceleração da atividade sucroalcooleira já afeta o comércio local. Em Ceará-Mirim, onde está localizada a usina São Francisco/ Ecoenergia – sob intervenção desde 2010 – as vendas recuaram 40%. Em Baía Formosa, onde a economia também se apoia na pesca e no turismo, as vendas no comércio caíram 20% desde meados de 2012.

Só a usina Vale Verde, em Baía Formosa, que já chegou a absorver 2,6 mil trabalhadores durante a colheita em anos anteriores, deixou de contratar 700 pessoas na última safra. “A tendência é contratar ainda menos trabalhadores agora”, avisa Eduardo Farias, presidente do grupo Farias e dono da usina.

A empresa reforçou a irrigação, mas não conseguiu evitar perda
A empresa reforçou a irrigação, mas não conseguiu evitar perda

Quem perdeu o emprego na usina enfrenta dificuldades para conseguir uma recolocação no mercado de trabalho e manter as contas em dia. Carlos César Alves Jota, 26, está desempregado há meses. Para garantir a renda no final do mês, faz bicos de eletricista, motorista e mecânico. “Conheço no mínimo uns dez na mesma situação. Do jeito que está, a usina não vai voltar a contratar ninguém”.

Vinícius Madeiro de Figueiredo, 23, também chegou a trabalhar na usina. Hoje trabalha no supermercado da família. “Todo o comércio na região está sendo afetado. A usina empregava muitas pessoas. Agora está dispensando”.

Em Ceará-Mirim, Procuradoria pede leilão de usina

A seca não é o único problema que afeta o setor sucroalcooleiro no estado. A Procuradoria da Fazenda Nacional solicitou ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região que a usina São Francisco/Ecoenergia, em Ceará-Mirim, seja leiloada. A propriedade, segundo parecer da Procuradoria, deve ser vendida para que se pague as dívidas com o fisco. O pedido foi acatado pelo Tribunal. Mas a equipe que administra a usina, sob intervenção desde 2010, entrou com recurso para suspender a decisão e o leilão só poderá ser realizado depois que o recurso for julgado.

O controle da usina é disputado na Justiça há anos entre o ex-proprietário Geraldo Melo e o empresário Manuel Dias Branco Neto, que comprou a companhia em 2009 e não teria pago o acordado em contrato. A usina deixou de processar cana na safra passada, por falta de recursos. O volume produzido caiu até o processamento da matéria-prima ser extinto.

O fechamento da usina levou o estado a se distanciar da capacidade máxima de moagem (4,5 milhões de toneladas/safra). Embora seja considerada uma das menores do estado, a São Francisco já respondeu por 10% da produção de cana do estado. A usina tinha capacidade para moer até 800 mil toneladas e chegou a empregar mais de mil trabalhadores nos últimos anos. Hoje, o número de empregados não passa de 20. São pessoas que trabalham nos departamentos Pessoal, Financeiro ou fazem a segurança da propriedade.Ambrósio Lins é presidente da Federação dos  Trabalhadores na Agricultura do RN e lamenta a situação da usina. “Ceará Mirim ficou sem seu maior empregador”.

Fonte:Tribuna do Norte

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