Revisão de reajuste ressuscita Opinião Pública

Responda rápido: quando um governante ou legislador brasileiro deixou de fazer ou defez qualquer coisa com medo da Opinião Pública? Dependendo da sua data de nascimento, você talvez fique tentado a dizer: ‘Nunca’. De fato, a Opinião Pública nunca teve esse importância no Brasil. Só de raro em raro ela dá as caras na vida pública. Mas, atenção: a coisa acaba de mudar.

São Paulo e Rio de Janeiro voltaram atrás e revogaram o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus, trens e metrôs. Geraldo Alckmin, Fernando Haddad e Eduardo Paes fizeram isso por medo dela, a Opinião Pública. A novidade não é banal. Depois de eleitos, os políticos brasileiros costumam achar que não devem nada a ninguém. Muito menos explicação. Julgamento? Só se for o do próprio espelho, que é um juiz condescendente.

De repente, todo mundo, da Dilma pra baixo –ou pra cima, se for incluído o Lula—, passou a se preocupar com a Opinião Pública. Por quê? A Opinião Pública decidiuexercer sua importância. Ressurgiu da forma mais inesperada. Tomou o asfalto. E com a sua cara mais assustadora. Invadiu a internet e o telejornal do horário nobre como massa automanobrada, sem líderes. Algo novíssimo no Brasil.

O filme que o país está vendo é inédito. O enredo inclui os garotos de passeata, os baderneiros do quebra-quebra e os policiais que nem sempre distinguem mocinho de bandido. Essa mistura é como pasta de dentes –não há como devolver ao tubo.

Há uma semana, falando de Paris, Alckmin olhara para a moldura sem enxergar o quadro. “É um movimento político e pequeno.” Também na capital francesa, Haddad dissera que não havia como rever o reajuste. A Opinião Pública deu-lhes uma lição. Nada é impossível com 240 mil pessoas nas ruas.

A rapaziada continua medindo asfalto. Logo, logo vai pra casa. A novidade é que a Opinião Pública se deu conta de que pode voltar quando bem entender. Percebeu que não precisa de intermediários. Com um computador e dois neurônios, pode produzir uma revolta. Está entendido que o Brasil do vale-tudo terá de tomar cuidado se quiser continuar se olhando no espelho.

Fonte:Blog do Josias de Souza

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