Só BNDES ainda não perdeu o sono com Eike

Deu no Blog do Josias

Em 2011, Eike Batista era o empresário mais extraordinário que Eike Batista conhecia. Com patrimônio estimado em US$ 30 bilhões, frequentava lista de revista estrangeira como o homem mais rico do Brasil. E dizia ter planos de alcançar o topo do ranking mundial. Hoje, Eike Batista é sinônimo de dois vocábulos tóxicos.

Eike significa prejuízo para os que compraram ações de suas empresas na bolsa. Para as casas bancárias que lhe emprestaram dinheiro, Eike é risco. Ele costura a venda dos negócios do seu grupo, projeta a renegociação de suas dívidas e torce para que lhe sobre o troco de uns US$ 2 bilhões.

A situação do ex-audacioso Eike Batista provoca inquietude em todos os recantos do mercado financeiro, menos no BNDES. Ali, impera a tranquilidade. Há coisa de dois meses, o presidente Luciano Coutinho foi questionado sobre o ‘Risco Eike’. Disse que a instituição sob seu comando estava “tranquila em relação à sua exposição.”

Quanto o BNDES emprestou às empresas do grupo de Eike? O doutor não soube dizer o valor exato. Mas arriscou uma aproximação: a cifra seria inferior a R$ 10 bilhões. De resto, disse que aguardava “com tranquilidade” o desfecho da encrenca. Desde então, o derretimento do conglomerado de Eike vem transformando ações em suco de groselha. Mas o BNDES continua tranquilo.

Nesta quarta (3), a boa e velha instituição de fomento viu-se compelida a divulgar uma nota. O texto desdiz o doutor Coutinho de dois meses atrás. O BNDES empurrou, sim, para dentro da escrituração do grupo empresarial de Eike empréstimos em valores superiores a R$ 10 bilhões. Para ser exato, comprometeram-se R$ 10,4 bilhões. “Nem tudo foi liberado”, informa a nota. Os desembolsos “ocorrem ao longo do período de execução dos empreendimentos.”

Considerando-se que o BNDES manuseia recursos públicos, você deve estar perguntando de si para si: quanto já foi liberado? O texto não informa. Mas fique tranquilo. Está anotado que “cada um dos contratos assinados possui estrutura de garantias específica, incluindo fianças bancárias.”

Estrutura de garantias?!? Hummm… Dá pra trocar em miúdos?, você perguntará. Não. Esqueça as garantias. Vamos adiante: noves fora os empréstimos, o BNDES possui ações das empresas de Eike. Tomando-se a posição de terça-feira (2), esse papelório somava R$ 551,8 milhões. Aqui, não tem garantia que dê jeito. Se as ações derretem, o dinheiro da Viúva se liquefaz como o de qualquer outro acionista. Quanto soma o prejuízo até aqui? A nota não esclarece. Mas tenha calma, não se desespere.

O BNDES informa que não empatou nas ações das empresas de Eike mais do que 0,6% do total do ativo do seu braço empreendedor, o BNDESPar. No mais, o bancão submetido à tranquila gerência do doutor Coutinho informa que “está acompanhando o desenrolar dos acontecimentos relacionados ao Grupo EBX.” Não diga!, você deve estar dizendo para os seus botões.

A nota acrescenta que o conglomerado de Eike “ dispõe de ativos sólidos e valiosos”. A fila de credores não é pequena. Inclui, além da banca privada, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Mas o BNDES “confia na capacidade dos atores envolvidos de encontrar a melhor solução para superar os atuais desafios.” Hã, hã…

James Joyce gostava de dizer que o leitor ideal é leitor com insônia. A regra deveria valer também para os administradores de arcas públicas. A essa altura, tudo ao redor de Eike Batista inspira dúvida. E a dúvida deveria ser, no BNDES e arredores, autora de insônias cruéis.

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