CENTRÃO, CENTRINHO E OS PROFISSIONAIS, POR MARCELO TOGNOZZI

O Congresso Nacional durante o recesso de fim de ano; no fim de janeiro, negociações vão se intensificarSérgio Lima/Poder360

Eleições no Congresso começaram

Com articulações às claras ou não

Nas disputas apertadas, as eleições para as mesas das duas Casas do Congresso são sempre decididas nos instantes finais. Neste ano, as disputas na Câmara e no Senado estão em aberto e assim ficarão até o último momento. Mas enquanto isso é preciso estar atento para duas coisas. A primeira: o MDB só perderá a eleição para a presidência do Senado se assim o desejar. A segunda, é que ao cair no canto de sereia de Rodrigo Maia, o PT acabará igual a Jonas: engolido pela baleia e vomitado na praia.

O Psol farejou que abraçar a proposta de Rodrigo Maia é correr o risco desnecessário de sair com a reputação e a identidade arranhadas. O PT não liga mais para isso. Faz tempo, deu baixa e mandou às favas determinados arroubos e pudores. O Psol quer ser o PT de ontem, puro, imaculado e cheio de moral. É improvável que não tenha candidato para bater chapa contra Baleia Rossi e Arthur Lira. Pensa em 2022, embevecido pela performance de Boulos em São Paulo e as perspectivas de ampliar a presença na Câmara dos Deputados e no repasse do fundo partidário, os quais andam de mãos dadas.

Maia articulou seu Centrinho para bater chapa com o Centrão, a quem deve suas 3 eleições para a presidência da Câmara e os 5 anos consecutivos de comando da Casa. O Centrão é governo por excelência, tem 35 anos de tradição e uma invejável capacidade de sobrevivência. A última vez que ressurgiu das cinzas foi na Lava Jato. O Centrinho de Maia, com Luciano Huck de paraninfo, junta siglas de esquerda como o PT e o PC do B, as viúvas de Bolsonaro abrigadas na sombrinha do PSL e mais a Rede de Marina Silva, o PDT de Ciro Gomes, parte do PSDB de João Doria e o PSB do prefeito de Recife, João Campos.

O Centrinho tem uma banda de música boa de barulho, simpatia da mídia e bombardeia a reputação do adversário Arthur Lira, mas, como lembrou há dias um integrante do Psol, faz de conta que seu candidato não tem telhado de vidro. Wagner Rossi, pai de Baleia e amigo de Michel Temer há 60 anos, perdeu a cadeira de ministro da Agricultura no governo Dilma Rousseff em 2011, depois de a revista Veja informar ao distinto público que um lobista chamado Júlio Fróes dava expediente dentro da Comissão de Licitações do ministério. Nitroglicerina pura para os que torcem o nariz para a candidatura de Baleia.

Na maioria das vezes, candidatos que fazem campanha para a presidência da Câmara falando para a opinião pública, e não para os deputados, acabam derrotados. Os casos mais marcantes são a vitória de Severino Cavalcanti contra o petista Luiz Eduardo Greenhalgh e a derrota de Odacir Klein, amigo de Itamar Franco, para Inocêncio Oliveira. Um experiente político com quase 3 décadas de Congresso fez as contas e concluiu que Rossi tem potencial para colher de 160 a 180 votos. A menos que o imponderável faça uma surpresa, este é o provável teto, com o Psol e seus 10 deputados, arrastando apoios e tirando de Rossi alguns votos da esquerda.

No Senado o jogo é, digamos, um pouco mais sofisticado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, lançou Rodrigo Pacheco (MG) e trabalha para manter o comando da Casa nas mãos do DEM, que tem 5 senadores. Ganhou o apoio dos 11 senadores do PSD de Gilberto Kassab. Em seguida, o Pros de Fernando Collor anunciou que embarcaria no barco de Pacheco, acrescentando mais 3 votos. O PP deve dar mais 7, totalizando 21 para a largada.

Este é o jogo visto na superfície. Mas há outro sendo jogado nos bastidores pelo MDB, que tem 13 cadeiras e trabalha para conseguir mais duas: os senadores Rose de Freitas (ES) e Veneziano Vital do Rêgo (PB), irmão do ministro do TCU Vital do Rêgo Filho, ex-senador e ex-líder do MDB. Rose é filiada ao Podemos e Veneziano está sem partido.

Na política nada acontece por acaso. Os profissionais do MDB no Senado estão na muda, assim como os do PSDB e do PT. Nos bastidores conversam muito para juntar debaixo do mesmo guarda-chuva 34 votos (MDB, PT, PSDB, Rede, PSB, PDT e Cidadania). Se vierem os descontentes do Podemos liderados por Álvaro Dias, serão mais 10 votos. Uma aliança de 44 votos, 3 a mais do que os 41 necessários para a vitória. É nessas horas que o pragmatismo pode ser decisivo.

Claro que essa matemática não é tão simples e depende de negociações nas quais nem sempre 2 mais 2 é igual a 4. Envolve cargos na mesa, presidência de comissões temáticas e outras coisas menos visíveis, porém igualmente ambicionadas numa Casa com orçamento anual de R$ 18 bilhões. A disputa esquentará para valer a partir do dia 25 de janeiro, faltando uma semana para a eleição das duas mesas. Tanto no MDB como no PSDB a experiência e a habilidade de negociar de José Serra, Tasso Jereissati, Renan Calheiros e Fernando Bezerra Coelho não podem ser ignoradas. São um ativo valioso, ainda mais quando o objetivo é comum.

Há 2 anos o MDB foi derrotado por Davi Alcolumbre num cenário bastante diferente do atual. O governo acabara de ser eleito, chegava forte e Renan Calheiros, então candidato do partido, errou ao subestimar o adversário apoiado por Bolsonaro. Hoje o cenário é outro e antigos aliados do governo cederam lugar a novos.

O Planalto não perde nada com o MDB vitorioso no Senado. Dois dos seus principais líderes, Eduardo Gomes e Fernando Bezerra Coelho, são do partido. Por várias vezes o MDB soube vencer e comandar a Casa com políticos pouco conhecidos nacionalmente como José Fragelli, Ramez Tebet ou Garibaldi Alves.

Davi Alcolumbre amargou duas derrotas seguidas em dezembro, uma em Brasília outra em casa: o STF negou a reeleição e seu irmão perdeu a prefeitura de Macapá. Uma derrota a mais na sequência seria o pior dos pesadelos, não apenas pelo fracasso em si, mas especialmente pelo tamanho da conta que será espetada nas suas costas. Não é por acaso que Bolsonaro pouco fala do Senado e foca na eleição da Câmara. Está esperando a última semana de janeiro chegar.

Com informações do Poder360

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