Tratamento da escoliose exige atenção, disciplina e informação

Sinais posturais, como ombros e costas desalinhados, devem servir de alerta para os pais| Foto: Cedida

porRedação Tribuna do Norte

A escoliose é uma condição caracterizada pela curvatura anormal da coluna vertebral, que pode surgir ainda na infância e evoluir silenciosamente durante o crescimento. Segundo o fisioterapeuta Pablo Santiago, especializado em reabilitação postural, identificar o problema precocemente é essencial para evitar complicações no futuro.

O profissional conta que, apesar de não existir causa definida para que os traços da doença sejam iniciados, o momento de vida em que o quadro se estabelece é entre os oito e os 15 anos de idade.

“O surgimento do quadro acontece antes da maturidade óssea ser estabelecida, então pode variar a idade de um indivíduo para o outro”, explica o fisioterapeuta, que também alerta que o público feminino é mais propício a desenvolver a condição. “Dois anos após a menarca, que é a primeira menstruação, há uma evolução muito rápida no corpo da menina, aumentando a probabilidade de ser desenvolvido. É por essa velocidade no crescimento que é tão importante o diagnóstico precoce da doença”, alerta.

A escoliose é caracterizada por uma curva com rotação das vértebras da coluna do paciente, o que a define como doença tridimensional (3D). E a sua classificação “idiopática”, sem origem conhecida, é a mais comum nos consultórios.

Sem queixas de dor, o quadro se manifesta no paciente através da mudança postural da criança, com assimetria dos ombros, desnível da cintura, inclinação do tronco, escápula proeminente ou quadril desalinhado. Por serem mudanças difíceis de serem percebidas em níveis sutis, os pais só percebem o quadro em fase avançada.

Consciente de que adiar o tratamento pode ser prejudicial à saúde, Edilson, pai de Laura, de 11 anos, procurou diagnosticar a filha após notar a assimetria em pontos do seu corpo. “Levei minha filha às consultas com dois ortopedistas especializados em coluna e, após exames de radiografia e ressonância magnética, foi confirmado o diagnóstico de escoliose”, conta Edilson, relembrando o processo que levou quatro meses.

Edilson lembra que a filha já se queixava de dor nos membros inferiores, o que acredita ser por razão do corpo compensar a irregularidade na coluna. “Laura está empolgada para realizar o tratamento, ansiosa para cada etapa, pois quer ter um bom resultado”, conta o pai.
“A expectativa dos médicos é que dê tudo certo. Já que o quadro dela foi identificado bem cedo, então a tendência é que daqui a algum tempo ela possa viver normalmente sem grandes consequências”, acrescenta o pai.

No consultório, o fisioterapeuta Pablo Santiago observa que muitos familiares não demonstram tanto interesse em seguir com o tratamento da escoliose em seus filhos. Ele acredita que isso se deve, em grande parte, à falta de informação sobre a importância do tratamento para a saúde e os reflexos para o futuro.

“Tento tornar as dinâmicas em consultas o mais favorável para a aderência desses pacientes ao tratamento, para que não abandonem o processo, mas vejo que há casos em que os familiares também não se interessam em dar continuidade ao acompanhamento”, analisa Pablo.
Devido à falta de ampla divulgação sobre a escoliose, o fisioterapeuta explica que ainda há pouca conscientização sobre as consequências da doença na vida adulta dos jovens que crescem sem receber o tratamento adequado.

“As complicações podem variar desde a problemas psicológicos, causados pela estética que o paciente acometido pelo grau de escoliose pode ter, seja em corcundas ou alturas da assimetria dos ombros. E até mesmo a problemas cardíacos e/ou respiratórios, em quadros onde a curvatura da coluna comprime órgãos como pulmões e coração”, explica Pablo.

Por tratar-se de uma doença que surge na juventude, o fisioterapeuta conta que não há muitos relatos dos sintomas da escoliose surgirem na fase adulta.

Tratamento

Os tratamentos da escoliose variam de acordo com a angulação que a curvatura da coluna vertebral do paciente se encontra, curva esta que os especialistas chamam de “Ângulo de Cobb”. O fisioterapeuta explica que com curvaturas entre 11º e até 25º de angulação o quadro da condição ainda é considerado leve, sendo recomendado o acompanhamento com fisioterapeuta para reabilitar e controlar o avanço do quadro.

Já em ângulos acima de 25º até 45º, os casos são considerados moderados. Pablo Santiago alerta que nesses quadros é recomendado o uso de coletes ortopédicos que, aliados às práticas fisioterapêuticas, devem ser utilizados 23h por dia para que juntos os métodos possam trabalhar na correção postural do paciente. Nos quadros moderados, surgem os traços aparentes da doença, com assimetrias em ombros ou quadris. Em quadros onde a angulação está acima de 45º, o fisioterapeuta explica que já é recomendada a realização de cirurgia.

“O ângulo nos ajuda a indicar o tratamento adequado para cada quadro. Como exemplo, nós podemos utilizar o quadro de uma menina que tem a curvatura em 20º e ainda não menstruou, portanto, ainda vai passar pelo ‘estirão’, podendo piorar esse ângulo. Então, nesse caso, nós já indicamos o colete para que o quadro não evolua”, explica Santiago.

No caso de Laura, filha de Edilson, já há a recomendação do uso do colete ortopédico, fato que gera preocupação no pai, devido ao alto valor do equipamento. “O tratamento como um todo tem um custo muito alto, as dez sessões de fisioterapia custam quase R$ 2 mil, e o colete 3D, recomendado para o tratamento da minha filha, custa R$ 4.300”, conta Edilson, que tem receio de não ter condição financeira de arcar com o custo do tratamento da filha.

Ciente do custo envolvido, o fisioterapeuta explica que busca sempre adequar o tratamento à realidade e à real necessidade de cada paciente. “Entendo o quadro do paciente e estendo o intervalo entre as sessões para que não sejam realizadas sem a devida necessidade. As sessões podem ser semanais, quinzenais, ou até mesmo mensais, a depender da necessidade de cada paciente”, conta.

“Tenho paciente que vem de Mossoró realizar o tratamento, então ele já tem a despesa do deslocamento, não fica viável ele vir em outro intervalo que não seja a cada 30 dias”, comenta Pablo. O fisioterapeuta também explica que, como forma de prolongar o tratamento, costuma passar exercícios para os pacientes realizarem em casa, para que possam dar continuidade ao tratamento de forma autônoma entre uma sessão e outra.

Entretanto, o profissional adverte que mesmo apesar do acompanhamento, o tratamento não realinha a postura ao ângulo natural. “Nosso objetivo no consultório é estabilizar a curva, para que ela não progrida para além do quadro em que já está. Se o paciente foi dedicado, realizando também os exercícios fora do consultório, nós podemos sim fazer esse alinhamento postural, mas não podemos propor isso de início, pois não depende apenas do fisioterapeuta, mas também da família, do uso do colete, e da equipe médica que o acompanha”, pontua Pablo.

Pensando na maior divulgação da doença e sobre ampliar a conscientização acerca da importância do diagnóstico precoce, Pablo Santiago conta que participa do programa “Todos com Escoliose”, onde são promovidas avaliações gratuitas e palestras de orientação sobre a condição para famílias e profissionais da área da saúde.

A escoliose é uma condição silenciosa, mas com impactos significativos na qualidade de vida das crianças e dos adultos. Por isso, a atenção aos sinais e a busca por diagnóstico precoce são atitudes fundamentais. Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maiores são as chances de estabilizar o quadro e evitar complicações futuras.

“Hoje em dia nós tentamos falar cada vez mais sobre escoliose, porque a gente ainda tem informações errôneas de profissionais da saúde falando sobre a condição. Recebo relato de paciente com 20 graus de curvatura e o médico já diz que é caso cirúrgico, sendo que é um paciente que não está nem perto de um quadro cirúrgico”, alerta o profissional.

Fonte: Tribuna do Norte

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