CPI torna o Planalto ainda mais dependente do PMDB
Fotos: Folha
Vencido pela oposição na batalha que resultou na criação da CPI da Petrobras, o governo decidiu trabalhar em duas direções:
1. Tenta juntar os cacos do consórcio partidário que lhe dá suporte no Senado;
2. Busca construir pontes com PSDB e DEM.
De todos os movimentos que desaguaram no malogro, o que mais chamou a atenção do Planalto foi a “passividade” do PMDB.
Na avaliação de Lula e de seus operadores políticos a letargia não foi casual. A criação da CPI deixa o governo ainda mais à mercê do PMDB.
Esperava-se de José Sarney (PMDB-AP) que pelo menos empurrasse a leitura do requerimento da CPI para a próxima semana.
Sabia-se que o PSDB, autor do pedido, não arredaria o pé.
Mas o governo ganharia um final de semana inteiro para realizar suas manobras.
Tramava-se arrastar para fora do pedido de CPI as seis assinaturas que livrariam a Petrobras do risco de ter as vísceras expostas numa investigação parlamentar.
Porém, já na noite de quinta (15), Sarney jogara a toalha. Avisara ao governo que não oporia resistências à leitura do requerimento da CPI no plenário. “É regimental”, disse.
Com esse gesto, Sarney abortou uma articulação conduzida pelo líder do PT, Aloizio Mercadante, em combinação com o ministro José Múcio (Coordenação Política).
Mercadante tentava agendar para a próxima terça-feira (19) um encontro de líderes. Além do final de semana, o governo ganharia a segunda-feira (18).
Pelo telefone, Sarney liberou o senador tucano Marcoini Perillo (PSDB-GO), vice-presidente do Senado, para oficializar a criação da CPI.
Era o derradeiro gesto de um PMDB que, durante toda a semana, parecera estranho aos olhos do Planalto.
O governo espantara-se com a ausência de Renan Calheiros (AL), líder do PMDB, nos esforços anti-CPI. Surpreendera-se com o dar de ombros de Romero Jucá (PMDB-RR), o líder de Lula no Senado.
Marconi Perillo voara para Goiânia na quinta (14). Tasso Jereissati (PSDB-CE) despachou seu jatinho particular para trazê-lo de volta a Brasília.
Na manhã desta sexta (15), Marcoini estava a postos. Presidindo um plenário vazio (cinco senadores, três dos quais tucanos), ele leu o fatídico requerimento.
Embora estivesse em Brasília, Sarney não deu as caras. A tropa governista encontrava-se inteiramente desmobilizada. Só João Pedro (PT-AM) foi ao plenário. E chegou atrasado.
Rendido, o Planalto tentou executar em poucas horas o plano que Sarney não lhe permitira pôr em marcha ao longo do final de semana.
Havia no pedido de CPI 32 jamegões. Para barrá-la, o Planalto precisava submeter a lista a uma lipoaspiração de seis assinaturas.
Correndo contra o tempo, o governo mobilizou três ministros: José Múcio (Coordenação Política), Edson Lobão (Minas e Energia) e Carlos Lupi (Trabalho).
Levaram-se à mesa oito nomes. A certa altura, como o relógio jogava contra, decidiu-se priorizar meia dúzia.
No DEM, o assédio concentrou-se em Adelmir Santana (DF), Gilberto Goellner (MT) e Jayme Campos (MT).
No PSDB: João Tenório (AL). No PDT: Cristovam Buarque (DF). No PTB: Romeu Tuma (SP).
Vencido o prazo fatal –meia-noite desta sexta (15)— o Planalto contabilizava duas escassas adesões. Pularam para fora da CPI Cristovam Buarque e Adelmir Santana.
A dupla de ‘demos’ matogrossenses –Campos e Goellner— foi contida pelo líder do DEM, José Agripino Maia (RN).
Agripino estava no Rio. Ouvira dos correligionários restrições à CPI. Sabia que balançavam. Alcançou-os pelo telefone. E neutralizou o assédio.
Não teve sucesso, porém, com Adelmir. Limitou-se a avisar: se retirar a assinatura, vai agir conta o partido. Adelmir retirou.
Os argumentos do Planalto pesaram mais do que o vexame de levar o rosto à vitrine numa manobra que, desde a noite anterior, Mercadante intuía que seria infrutífera.
Esperava-se de Renan que ajudasse a virar a casaca do tucano alagoano João Tenório. E nada. O Planalto recorreu ao governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), cujas finanças são fortemente dependentes dos repasses de Brasília.
Senador e governador tucanos consultaram a cúpula do PSDB. O líder Arthur Virgílio (AM) e o presidente Sérgio Guerra (PE), seguraram João Tenório.
Coube a Gim Argello (DF), líder do PTB, a missão
de atrair Romeu Tuma (PTB-SP). Encontrou uma resistência que surpreendeu o governo.
Tuma abespinhara-se com o comentário que ouvira de um petista. Lembrara-o de que seu filho, Romeu Tuma Jr., está empregado na pasta da Justiça. Mordido, Tuma fincou o pé.
Sentindo o cheiro de queimado, José Múcio passou a distribuir afagos à oposição. Telefonou para dirigentes do DEM. Contou-lhes uma lorota que provocou risos.
O ministro disse que, em respeito ao partido, não pedira a nenhum ‘demo’ que saltasse fora da lista da CPI.
No PSDB, partido que Lula tachara de “irresponsável” pela manhã, Múcio trocou idéias com o “amigo” Sérgio Guerra, pernambucano como ele, e com o líder Arthur Virgílio.
Sentiu-lhes o pulso. Ouviu de Virgílio que o PSDB não vai à CPI com pendores pirotécnicos. Agirá com “responsabilidade”.
Deseja, segundo disse, preservar a Petrobras, não prejudicá-la. Combinaram de jantar na próxima semana.
A CPI terá 11 titulares. O governo faz as contas. Estima que terá uma maioria de um ou dois votos. Basta um azedume do PMDB para que fique em minoria.
Na madrugada deste sábado, em conversa com um amigo, Arthur Virgílio disse: “O governo só vira refém do PMDB se quiser. Tratando-nos com respeito, terão uma CPI rigorosa, mas sem espetáculos”.
Escrito por Josias de Souza