PMDB reivindica mais espaço na campanha de Dilma

José Cruz/ABr
Num encontro do seu Conselho Político, o PMDB juntou em Brasília os vencedores e os derrotados das urnas de domingo passado. A reunião se converteu num misto de lamúria e reivindicação.
Em tom exaltado, a caciquia do partido queixou-se do quase “anonimato” a que foi relegado na campanha de Dilma Rousseff ao longo do primeiro turno. Cobrou mais “espaço” no comitê eleitoral da pupila de Lula.
Os morubixabas do partido revezaram-se no microfone. Reeleito senador por Alagoas, Renan Calheiros arriscou uma explicação para a submissão do PMDB ao segundo plano que lhe foi reservado na campanha nacional:
“Dilma cresceu antes do tempo e a campanha entrou no piloto automático. Por isso o PMDB se submeteu”, disse Renan. Insinuou que, no segundo turno, os ventos mudarão de direção:
“O PMDB quer compartilhar esse projeto de poder, quer ocupar esse espaço que lhe cabe”. Ao esmiuçar o raciocínio, Renan deixou antever que, num eventual governo Dilma, o apetite do partido será, por assim dizer, tonificado:
“Hoje nós não temos uma aliança. Não temos mais uma mera coalizão de governo. Hoje, nós estamos compartilhando um projeto de poder”.
Líder do PMDB na Câmara e candidato à presidência da Casa, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), também reeleito, soou ainda mais incisivo, tanto na queixa quanto na reivindicação:   
“Tivemos a não-presença do PMDB [na campanha] no primeiro turno. Talvez você [Temer] não fosse o vice preferido [do PT]”, declarou Henrique, voltando-se para o amigo Michel Temer, candidato a vice-presidente na chapa de Dilma.
Henrique mirou no petismo: “Não aceitamos essa história de eleição para um só partido. Ou ganhamos juntos ou não ganha ninguém. O PT merece respeito, é um grande partido, mas também temos o nosso espaço”.
Na véspera, em conversa com Dilma, Temer levara à candidata as inquietudes de sua tribo. Foi ao encontro desta quarta munido de panos quentes.
Como que decidido a acalmar as almas inquietas, Temer disse que a participação do PMDB no comitê de Dilma passará a ser efetiva. Instou os presentes a interpretar o recado das urnas.
Acha que os eleitores provocaram o segundo turno porque “querem mais debate”. Lembrou que, como vice, representa o PMDB na chapa oficial. E, para mobilizar a audiência, borrifou na atmosfera a perspectiva de vitória:
“O PMDB não pode perder a eleição, me levem à vice-presidência ao lado da grande parceira Dilma. Eu preciso chegar à vice para representar com mais força o maior partido do país”.
É esse cheiro de poder que faz com que o PMDB mantenha atravessada na traquéia, sem regurgitar, o bololô de mágoas que envenena suas relações com o PT.
Por trás do súbito interesse em aumentar a influência no comitê de campanha esconde-se uma insatisfação ruminada em segredo.
A cúpula do PMDB não digeriu a ascenção de Ciro Gomes (PSB) à coordenação da campanha de Dilma.
Ciro é velho desafeto do PMDB. Dia sim outro também, aponta a “frouxidão moral” que enxerga na junção do partido de Temer com a legenda de Dilma.
No final do ano passado, Ciro dissera que, sob Lula, a aliança PMDB-PT plantou na Esplanada dos Ministério “um roçado de escândalos”.
Noutra declaração acerba, Ciro referiu-se a Temer como “chefe de um ajuntamento de assaltantes”. 
Noves fora o “efeito Ciro”, o PMDB acumula mágoas da primeira fase da campanha. Em vários Estados, seus filiados disputaram cadeiras no Legislativo com rivais do PT.
Na Câmara, a propósito, o PMDB, agora com 79 deputados federais, perdeu a condição de maior bancada para o PT, que conquistou 88 poltronas.
Há, de resto, diferenças colecionadas na disputa por governos estaduais. O caso mais agudo é o de Geddel Vieira Lima.
Concorreu ao governo da Bahia. E se queixa de ter recebido tratamento de inimigo por parte de Lula e Dilma, que privilegiaram a vitoriosa campanha do petista Jaques Wagner, reeleito em primeiro turno.
O curativo de Geddel exigiu cuidados especiais de Temer. Pela manhã, antes da reunião das lamúrias e reivindicações, o vice levou Geddel à presença de Dilma. A candidata tratou as feridas à base de afagos.
Depois de receber acenos de prestígio num eventual futuro governo, Geddel, já de volta à Bahia, fez uma declaração que vinha adiando. Anunciou o engajamento na campanha de segundo turno.

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